A Ordem dos Médicos Veterinários (OMV) divulgou, no decorrer do seu XII Congresso realizado a 21 de novembro, o estudo inédito sobre a profissão Médico-Veterinária em Portugal, que coloca em destaque as particularidades nacionais da demografia e empregabilidade.
O estudo, apresentado pelo Professor George Stilwell, membro do Conselho Diretivo da OMV, foi concretizado pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), em estreito diálogo e colaboração com o Grupo de Demografia e Empregabilidade da OMV.
O estudo tem como objetivos o diagnóstico sobre o acesso à profissão Médico-Veterinária e ao mercado de trabalho nacional e internacional, a caracterização socioprofissional dos Médicos Veterinários e o apoio à delineação das estratégias para o futuro da profissão. Analisou ainda a situação no contexto marcado pela pandemia, avaliando os seus efeitos para os profissionais e para a evolução da profissão.
Os dados de um estudo da Federação Europeia de Veterinários (FVE), sobre a evolução do número de Médicos Veterinários ativos por cada 100 mil habitantes, mostram que houve um grande crescimento em Portugal, entre 2011 (22), 2015 (48) e 2018 (59). Este crescimento foi superior ao que aconteceu com a média europeia (36 e 44 em 2015 e 2018).
O estudo da FVE mostra ainda que em 2018, Portugal é o país europeu com a maior percentagem de Médicos Veterinários com idade inferior a 40 anos, com 61% contra a média europeia de 41%.
No período em análise, observa-se ainda um aumento da percentagem de mulheres Médicas Veterinárias, de 62% em 2015 para perto de 65% em 2018, valor que se situa acima da média europeia de 58%.
Estes números vão ao encontro dos resultados da análise da base de dados da OMV, efetuada para caracterizar a profissão atual.
O estudo OMV-CIES analisou também os 7 cursos Médico-Veterinários ativos em Portugal à altura da recolha de dados, sublinhando que apenas um destes cursos está acreditado e outro está aprovado em fase de acreditação, pela European Association of Establishments for Veterinary Education (EAEVE).
De acordo com a análise, a maior parte dos Médicos Veterinários não realiza formação pós-graduação (por exemplo, doutoramento) após terminar a licenciatura/mestrado integrado.
O estudo identifica o risco elevado do número anual de recém-formados vir a saturar brevemente o mercado de trabalho, exacerbando a situação de subemprego e a diminuição da qualidade dos serviços prestados.
Quando analisada a empregabilidade dos membros ativos da OMV, em 2018 a maioria encontra-se integrada no setor privado como empregado (45%), seguido do setor privado como proprietário (22%).
A percentagem de profissionais que integram o setor público é de 12%, enquanto que 7% optaram pela investigação e indústria.
A maior parte dos Médicos Veterinários em Portugal tem ocupação a tempo inteiro (90%), superior à média europeia que se situa nos 81%.
O crescimento e o desenvolvimento profissional são os fatores que motivam a procura de outros mercados de trabalho. O Reino Unido lidera os destinos com 24,9%, seguido de Espanha (20,7%), França (7,5%) e Estados Unidos (6,9%). De referir que estas respostas foram dadas por Médicos Veterinários que estiveram no estrangeiro por períodos relativamente curtos e que já regressaram a Portugal, sendo membros ativos da OMV.
Em termos da relação dos Médicos Veterinários com a profissão o inquérito indica índices de satisfação com a profissão elevados, com cerca de 74% a revelar satisfação com as condições gerais de trabalho e 66% com o horário de trabalho. Mais dividida é a noção de haver uma adequada conciliação entre a vida pessoal e profissional (aproximadamente 50%).
Um dado preocupante é o que indica que cerca de 30% daqueles que responderam ao inquérito não voltariam a enveredar pela profissão de Médico Veterinário.
Relativamente à reputação da classe, mais de 65% dos inquiridos discorda ou discorda totalmente que a profissão Médico-Veterinária seja socialmente prestigiada e reconhecida em Portugal. Em contraste, mais de 70% considera que a competência dos Médico Veterinários portugueses é reconhecida lá fora.
Um outro resultado importante é a perceção que os inquiridos têm de que o público, de uma forma geral, não conhece a diversidade dos campos de atuação dos Médicos Veterinários.
O estudo contempla ainda uma análise SWOT no sentido de identificar os pontos fortes e fracos da profissão assim como as ameaças e as oportunidades que o futuro pode reservar. Após a discussão pública do estudo, a OMV pretende avançar com propostas para resolver as questões mais prementes e urgentes, no sentido da defesa da atividade médico-veterinária, da garantia da qualidade dos serviços prestados e da elevação do prestígio e satisfação de todos os Médicos Veterinários.
Metodologia:
O estudo sobre a profissão Médico-Veterinária em Portugal baseou-se:
1) na análise dos dados estatísticos recolhidos de diversas fontes;
2) em entrevistas presenciais ou virtuais a diretores de cursos de veterinária, docentes, dirigentes de associações e empregadores nos vários ramos da Medicina Veterinária;
3) num inquérito online colocado aos membros ativos da Ordem dos Médicos Veterinários (com cerca de 50% dos membros a responder).