Pode (e deve) consolar o seu cão quando ele se assusta

Pense em algo que o atemoriza – ter de confrontar uma sala cheia de baratas/aranhas/cobras, mar picado se não souber nadar, doença séria de alguém que lhe é próximo…

Isto traz-lhe arrepios na espinha e/ou medos (mais ou menos racionais) difíceis de confrontar, certo? O que fazer nestas situações em que o cérebro bloqueia e não se consegue ver como enfrentar? O pavor aumenta cada vez mais.

Mas… e se tiver alguém ao seu lado a tranquilizá-lo, alguém que lhe dê a mão e o ajude a superar a situação? Irá sentir mais medo por causa disso? Claro que não, que disparate! Muito pelo contrário, ao sentir que não está sozinho vem uma sensação de tranquilidade que as coisas talvez não sejam assim tão más de enfrentar? O seu comportamento começa a ser menos nervoso. Com o tempo, provavelmente irá mesmo começar a acalmar, a ver que há uma luz ao fundo do túnel.

Com os cães passa-se a mesma coisa. Quando se assustam, é importante para eles terem alguém em quem confiem, que mostre um comportamento calmo nessa situação, isso irá ajudá-los a reagir melhor e, com o tempo, perceberem que afinal é uma situação normal e não um bicho-papão.

Ajudar um cão é exibir um comportamento calmo e sereno, falar com um tom de voz tranquilizante, fazendo umas festas seguras, firmes e prolongadas, até o cão começar a relaxar

Ajudar um cão não é estar muito agitado, com voz esganiçada e gestos curtos e nervosos, “ai coitadinho, que horror, tens toda a razão, isto é tão horrível!”. Pelo contrário, ajudar um cão é exibir um comportamento calmo e sereno (mesmo que nós próprios estejamos assustados), falar com um tom de voz tranquilizante (o tom é mais importante que o que se diz), fazendo umas festas seguras, firmes e prolongadas (quase como massagem), dos ombros à base da cauda, ou lateralmente dos ombros às costas, até ao cão começar a relaxar – mas sempre sem o forçar a estar no sítio, sempre dando-lhe a liberdade de escolher ficar ou afastar-se.

“Ah, mas ele tem de aprender a lidar com as coisas!” Esta mentalidade já existiu também na forma de lidar com as crianças pequenas, e felizmente foi abandonada por se ver que era bastante contraproducente.

Sem dúvida nenhuma é necessário aprender a lidar com as situações, mas isso não acontece quando se está assustado. Muito pelo contrário, as respostas fisiológicas e hormonais em situações de medo inibem a aprendizagem.

Para se conseguir aprender, as situações treinam-se tranquilamente em ambientes calmos, não se espera que ocorra um medo. Quando se está assustado, o que é preciso é ter-se um porto seguro que nos tranquilize!

No fundo, a grande questão é esta – Quando se assusta, prefere um cão que fuja DE si, ou um cão que fuja PARA si?

Por: Carla Cruz, Aradik – Consultoria Técnica Canina