O contato com a lagarta do pinheiro ou processionária é uma situação urgente que necessita de cuidados médico veterinários imediatos. Nos cães, a sua curiosidade inata leva-os a cheirar ou a lamber a lagarta, colocando-os em perigo!
O que é a lagarta do pinheiro?
A lagarta do pinheiro (thaumetopoea pityocampa) é uma praga que afeta os pinheiros na Europa, principalmente em zonas mais quentes, como a zona mediterrânica. São considerados insetos desfolhadores, uma vez que destroem folhas ou agulhas, dos pinheiros e cedros.
Este é um problema de saúde pública, porque pode afetar as pessoas e os animais.
Se mexer numa lagarta ligue para a Linha SNS 24 (808 24 24 24) ou dirija-se a uma unidade de saúde.
Fase crítica: os meses de janeiro a maio
O ciclo biológico tem início no verão, quando as traças (fêmeas) iniciam a produção de ovos em cacho após a fecundação. Os ovos eclodem após 5 semanas e as larvas iniciam o seu ciclo de vida dividido em 4 estádios.
Após o terceiro estádio começam a construir o ninho de seda (com aspeto de casulos de teias de aranha) no topo dos pinheiros. Nesta fase já possui pelos urticantes.
Com o aumento da temperatura na primavera, as lagartas abandonam os ninhos e saem dos pinheiros, descendo os troncos em “procissão”. Andam umas atrás das outras, em fila, daí o seu nome de processionária.
Têm como objetivo enterrarem-se no solo, para passar para a fase de pupa e evoluir para a fase de inseto adulto, no verão, completando o ciclo anual.
Cuidado com os acidentes!
O contato direto com a lagarta do pinheiro ocorre maioritariamente nos cães e nas crianças, mas pode ocorrer com outros animais.
Em ambos, a área mais afetada é a cabeça. A sua curiosidade leva-os a aproximar-se, e os cães vão cheirar e lamber numa tentativa de descodificar aquele “objeto” novo.
As lagartas do pinheiro têm à volta do seu corpo pelos urticantes, espinhos e setae, que contêm propriedades urticantes devido a uma proteína designada taumetopoina.
Quando estes penetram na pele ou mucosas do animal e é libertado o veneno, ou quando as lagartas são ingeridas, desenvolve-se uma reação alérgica inflamatória inespecífica.
A rapidez é essencial
A sintomatologia e gravidade da situação clínica do animal vai depender de vários fatores, nomeadamente, da parte do corpo que foi exposta (normalmente a zona do focinho), da extensão da área que esteve em contato e do tempo decorrido até se iniciar um tratamento.
Este último é um fator muito importante no sucesso do tratamento e resolução do caso clínico.
Quanto mais tempo passar entre o contato com a lagarta e o início do tratamento, maior será a probabilidade de danos irreversíveis.
Sintomas mais frequentes
Nos cães, a zona mais afetada é a cavidade oral, porque é a primeira parte do corpo a entrar em contato com a processionária, levados pela sua curiosidade.
Os sintomas mais frequentes logo após o contato direto com a lagarta são: urticária, edema da língua e edema sublingual, dor, salivação excessiva, disfagia (dificuldade em engolir) e inflamação da boca, da língua e dos lábios.
Podemos observar o animal a esfregar o focinho numa tentativa desesperada de tirar a dor e a comichão. Pode ficar mais excitado ou prostrado.
Pode apresentar um aumento da frequência cardíaca e respiratória, vómitos, edema do focinho, úlceras, cianose da língua (língua azulada) e/ou choque anafilático grave, tremores e entrar em coma.
Nos olhos pode ocorrer edema da córnea, edema das pálpebras (blefarite), lacrimejamento excessivo, prurido ocular, hiperemia da conjuntiva ocular, entre outras.
O mais frequente é o animal perder a parte distal da língua devido à necrose desenvolvida. Nos casos mais graves, o contacto com a Processionária pode levar à morte do cão.
O que fazer se o cão contactar com a lagarta do pinheiro?
O contato direto do cão com a lagarta do pinheiro é uma situação urgente que necessita de cuidados médico veterinários imediatos. Os animais devem ser internados para observação e estabilização.
» Não esfregue a zona afetada.
» A zona afetada deve ser irrigada com solução salina sob pressão, sem esfregar, no mínimo 10 minutos, para remover os setae.
» O médico veterinário irá administrar medicação adequada e proceder à estabilização do animal.
» Não existe um antidoto para a intoxicação por lagarta do pinheiro, o tratamento aplicado é apenas sintomático.
Como prevenir esta situação?
Os cães têm uma tendência natural para se colocarem em situações perigosas, o contato direto com a Processionária é uma dessas situações.
» Temos de prestar especial atenção entre janeiro a maio.
» Evitar zonas com pinheiros nesta época do ano.
» Estar atento ao chão nas zonas onde passeamos o cão.
ATENÇÃO: Se observar procissões de lagarta de pinheiro, principalmente, em jardins e em parques públicos, deve informar a Junta de Freguesia, a Câmara Municipal e a Proteção Civil Municipal.
Por: Catherine Fernandes, Médica Veterinária
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