Projeto no Porto reúne cães e sem-abrigo na Cais

Um projeto de apoio a sem-abrigo reúne semanalmente, desde março, no Porto, duplas de intervenções assistidas da Associação Ânimas e pessoas apoiadas pela Cais, visando a sua integração e adesão ao processo terapêutico com o auxílio de cães.

Às quintas-feiras, os sem-abrigo apoiados pela Cais têm uma nova atividade, pensada e executada para auxiliar o seu processo de “regresso” à sociedade, conduzida pelas duplas de intervenções assistidas formadas pela Catarina Cascais e a Retriever do Labrador Ervilha (1 ano), e pela Rita Faria e a Hopi, sem raça definida (7 anos).

À Lusa, Rita Faria explicou que “a interação [com os cães] melhora a relação social, a aquisição de competências de linguagem e de comunicação, pois os animais desinibem as pessoas, deixando-as mais à vontade”.

Catarina Cascais adicionou outros argumentos: “Há um estigma social muitas vezes associado a esta população e os cães, pelo amor incondicional que demonstram, porque não julgam pelas aparências, dão-se de uma forma muita genuína”.

“Do que sabemos deste tipo de população, muitas vezes as relações humanas são pautadas por problemas de comunicação e que é ultrapassado com os cães, conseguindo muitas vezes baixar as suas barreiras e, dessa forma, permite-nos chegar mais próximo do cerne da questão”, resumiu a terapeuta sobre o trabalho feito pelas duplas.

Para tal, explicou Catarina Cascais, há toda uma formação feita ao nível das duplas, pois os “cães têm de ser muito sociáveis, dessensibilizados em relação a barulhos e toques”, numa equação em que entra também “que gostem de brincar e de trabalhar e, acima de tudo, que a dupla tenha uma ligação muito próxima. O cão não é um terapeuta, ele trabalha com o terapeuta”.

À Lusa, a responsável da Cais, Fátima Lopes, explicou que, “para além do acompanhamento social“, é objetivo da associação “ter atividades que promovam o bem-estar geral desta população, sobretudo o social e emocional” e que viram na parceria “uma possibilidade de o fazer acontecer de uma maneira diferente”.

“Ajuda também a combater o isolamento social desta população e, sendo uma atividade coletiva, promove a interação e a partilha de histórias a partir das conversas sobre animais que tiveram ao longo da vida”, acrescentou.

Testemunhando que a “recetividade foi ótima”, assinalou que os sem-abrigo envolvidos “percebem as vantagens ao nível da ansiedade”.

As duas cadelas dominam as atenções, entre respostas ao ‘clicker’ acionado a cada ordem cumprida das terapeutas e que depressa passa para o controlo dos beneficiários, a par dos biscoitos que recompensam cada gesto dos caninos.

As sessões duram 45 minutos e é com palavras de elogios aos animais e às pessoas, que se tentam ensinar regras.

João Costa, sem-abrigo, de 28 anos, revelou que poder trabalhar com as duas cadelas ajuda-o a “acalmar e a aprender novos truques”, tendo na semana anterior oferecido “o desenho da Ervilha, sendo que ninguém na Cais sabia que ele pintava”.

Fonte: Agência LUSA