Conversámos com a artista Catarina Moutinho, que alia a sua paixão pelos cães à pintura e damos a conhecer um pouco do seu percurso e trabalho.
Catarina Moutinho nasce em Lisboa em 1973. A sua paixão pela raça Boxer começa em 1982, quando tinha 9 anos, com o Rek ou Requinho. Segundo esta “era um cão especial, alegre, desajeitado, brincalhão e que deixou muitas saudades”.
Frequentou a Escola António Arroio, em artes plásticas, e, posteriormente, o IADE onde se licenciou em Design de Interiores. Só passados muitos anos, quando foi morar sozinha, voltou a ter um Boxer, o António.
Atualmente, vive com os seus filhos e, como não poderia deixar de ser, com um Boxer, o Eliot. Tem ainda como companheiros o Bill (Bouledogue Francês), a Pinkie (Griffon de Bruxelas) e o Snooze (British Shorthair Blue). A artista plástica confessa “não consigo imaginar a minha vida sem estes meus companheiros que fazem parte da família”.
1. Como foi o seu percurso académico?
Sempre fui curiosa e criativa. Desde o início do curso comecei a trabalhar em agências de publicidade para adquirir a experiência em contexto real.
Embora a minha licenciatura tenha sido em Interiores, acabei por me dedicar mais ao design gráfico, acabando por abrir a minha própria agência de comunicação e publicidade, mas nunca deixando de fazer trabalhos pontuais de Interiores.
Com o meu pai, Arquiteto e Professor na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, tive o privilégio de, desde pequena, ter contacto com uma variedade de áreas artísticas, como a escultura, a olaria ou a pintura, entre outras. Sempre que podia, lá estava nas salas da Faculdade onde tantos professores ensinavam os seus alunos, sempre à espreita, com sede de aprender como qualquer criança ou adolescente.
De entre as várias formas de expressão, a pintura sempre foi a minha preferida, apesar de ainda hoje, com a minha filha mais nova, passarmos horas de volta de pequenos trabalhos de escultura e colagem.
A pintura sempre foi o meu hobby e é, para mim, terapêutica. Ao longo dos anos tem ganho um papel muito importante na minha vida conciliando as minhas duas grandes paixões: animais e arte.
2. Quando é que começa a dedicar parte do seu tempo à pintura?
Tenho conseguido conciliar o design com a pintura desde há uns anos. São a minha arte da qual não abdico. Tenho a sorte de poder fazer o que mais gosto.
Nunca deixei de desenhar ou pintar. É algo que faz parte de mim desde sempre. Acabo sempre por desenhar, muitas vezes para me expressar seja no que for.
No ano 2000 decidi tornar “público” o meu trabalho como artista de retratos. Ofereci duas telas a óleo, da expressão do olhar de cada um dos noivos – no dia do casamento da minha irmã. A partir desse dia fui perdendo o receio de mostrar o meu trabalho como pintora e as encomendas começaram a chegar.
Nessa mesma altura, talvez até um pouco antes, para ser diferente, decidi criar o meu conjunto de chávenas de café. Pintei todo o conjunto de 12 chávenas, com 12 Boxers imponentes e premiados. O impacto entre os meus amigos foi grande. Rapidamente as encomendas começaram a surgir e muitas… muitas chávenas pintei eu! Que giras que eram as minhas mini-pinturas!
Desde aí tenho-me especializado nos seus retratos é onde me deixo levar pela imensidão da ternura dos seus olhares, onde encontro paz e amor a fazer o que mais gosto.
A pintar perco-me no tempo e nas horas. Ansiosa das pinceladas que tenho para dar até chegar ao resultado final.
3. Atualmente, a técnica que mais usa é a tela a óleo, é a sua preferida?
Sempre gostei de pintar a óleo pela sua textura e plasticidade, que me permitem pintar por camadas sucessivas e durante vários dias. Pintar a óleo é pintar sem pressa, é poder ir pintando hoje e poder retocar amanhã. Daí as minhas telas demorarem 1 a 2 meses a estarem prontas. Dedico o meu tempo a cada pintura, com paixão e carinho.
4. Nas suas redes sociais, além de cães, também podemos ver retratos.
O olhar é algo que me fascina desde sempre. O cliché “o olhar é o espelho da alma” é a maior das verdades. Desde a forma do olho até ao movimento das sobrancelhas, é a forma como comunicamos, e são essas as expressões que gosto de retratar.
Conseguir identificar uma pessoa ou um cão apenas pela expressão do olhar… é o meu objetivo. Na realidade como já disse antes, as minhas primeiras telas eram apenas do olhar e ao longo do tempo evoluíram para retratos completos.
5. Quando pintou o seu primeiro retrato de um cão?
Uma boa pergunta. Desde sempre me lembro de desenhar, o que é certamente normal à maioria das crianças, no meu caso o que aconteceu foi que nunca deixei de o fazer e, com o tempo, naturalmente e sem me dar conta, a pintura foi ocupando um espaço cada vez maior em mim.
Para além de algumas experiências com cães meus, o meu primeiro retrato a óleo de um cão, foi o Bacchus da minha amiga Sandra.
Era um Pastor Alemão especial que a acompanhou durante anos, e a sua morte deixou um vazio imenso em toda a família e amigos. A única forma que tinha de lhes minimizar a dor que sentiam foi retratá-lo numa tela de 90×90 cm, que ainda hoje está na sala de estar da família marcando a sua posição de destaque.
6. Durante alguns anos esteve ligada à Canicultura, como expositora da raça Boxer em eventos de morfologia canina. Acha que é uma mais-valia para o seu trabalho?
Em adulta, quando fui buscar o meu primeiro Boxer, o Nero Von Bispus a que chamava de António, comecei a frequentar as exposições caninas impulsionada pelos seus criadores. Foi, e é, uma experiência sempre diferente e gratificante. Acabei por conhecer muitas pessoas e algumas raças que nunca tinha visto ao vivo.
O facto de lidar com algumas raças em especial, dá-me mais ferramentas, que de outra forma não as teria, para captar a essência de cada um, as suas expressões e carácter, e rapidamente passá-lo para a tela.
Pela minha formação e educação fui treinada a observar os detalhes e pormenores, é neles que se encontram as tais diferenças que mudam tudo!
É este o foco da minha pintura – a atenção ao detalhe que faz toda a diferença.
7. Mas não pinta apenas a raça Boxer.
Adoro cães. Adoro as suas expressões. Adoro Boxers! Tenho pintado mais Boxers que outras raças, talvez pela quantidade de pessoas que conheço, uma vez que tem sido a minha raça de coração.
Mas também tenho pintado cães sem raça definida, Bouledogue Francês, Rottweiller, Griffon de Bruxelas, Pastor Alemão, entre tantas outras.
8. O que é mais difícil de capturar, de transmitir, quando reproduz uma fotografia para a tela?
Mais do que um montão de fotografias que temos guardadas nos telemóveis, as minhas telas a óleo personalizadas são únicas, eternas e intransferíveis.
Cada pintura é diferente e sempre um desafio à minha capacidade de interpretação. Sinceramente não acho que existam coisas mais fáceis ou mais difíceis. O princípio, é sempre o mais complicado… A tela branca! Depois quando começo a desenhar, a vontade de começar a pintar é enorme.
Começo sempre por pintar os olhos. Parece que tenho a tela a olhar para mim com aquele olhar único, ainda sem grande detalhe, e tudo o resto começa a fluir, é como se a tela branca ganhasse uma alma.
9. De todas as suas obras, qual a sua preferida e porquê?
Não tenho nenhuma tela preferida. Adoro todas. Para mim cada uma delas representa um momento especial. Ter a oportunidade de imortalizar um cão ou um gato é para mim muito gratificante.
Houve sim, há muitos anos, uma tela que pintei que me marcou muito – uma criança que tinha falecido há dois anos. Foi das telas mais difíceis que pintei por conhecer tão bem o sofrimento daquela mãe. Quando a entreguei, nunca me vou esquecer das suas palavras: “tenho a minha filha novamente viva a olhar para mim”. Foi incrível.
10. O que sente quando entrega um trabalho?
A sensação de dever cumprido! Enquanto pinto sou feliz e poder transmitir essa felicidade aos futuros donos dessa tela é algo que me enche o coração e a alma. Saber que imortalizei o/os seu/seus menino/s numa tela a óleo… é para sempre!
11. Que tipo de fotos necessita e que indicações dá a quem lhe pede uma pintura do seu cão?
A primeira coisa que pergunto é se tem fotografias de qualidade com boa resolução. Se não as tiver, e se viver na zona de Lisboa, combinamos e em conjunto podemos tirar algumas com a minha máquina fotográfica e aproveito para conhecer quem vou pintar!
Caso tenha as fotografias prefiro sempre as que estão a ¾, onde se vejam os dois olhos, mas que não sejam totalmente de frente para não perder a perspetiva.
Peço sempre mais do que uma fotografia para poder estudar a expressão do olhar e reproduzir o mais fiel possível, às vezes uma pincelada fora do sítio muda completamente a expressão.
11. Como se pode fazer um pedido?
Podem ver o meu trabalho no website, no Instagram ou no Facebook. O pedido é feito por telefone, por email ou por mensagem. Precisamos sempre de escolher a melhor foto do cão ou gato, com a maior resolução possível para que não me escape nada.
O tamanho da tela deve ser adequado ao sítio onde a querem colocar. Por vezes há casos especiais, como por exemplo, pintar dois animais na mesma tela, ou uma tela com um tamanho diferente do standard.
Ao longo das semanas vou enviando uma ou outra fotografia da evolução. Os donos ficam sempre contentes e sei que estão ansiosos de verem o resultado final.