Será que o meu cão tem “Alzheimer”?

Um problema pouco conhecido por muitas pessoas, frequentemente descartado como “sinais de velhice”, são os problemas cognitivos, com sintomas semelhantes à demência ou Alzheimer humano. É a chamada Disfunção Cognitiva Canina.

A terceira idade é uma fase da vida aguardada com alguma angústia por quem gosta de alguém – seja pessoa ou animal.

Tal como ocorre com as pessoas, muitos cães vivem longas vidas na fase idosa sem problemas de maior. Lembro-me do meu primeiro cão, o Top, que aos 14-15 anos tinha uma energia e vitalidade tais que, mesmo com o focinho mais branco, a maioria das pessoas pensava que ele tinha menos de metade da sua idade.

Mas, e também como acontece com as pessoas, alguns cães começam a sofrer de maleitas variadas à medida que vão envelhecendo, sejam físicas ou mentais, e podem mesmo apresentar sinais de demência. Apesar de estarem associados à idade e não terem cura, é possível atrasar o seu aparecimento, e propiciar-lhes uma evolução mais lenta.

A Disfunção Cognitiva Canina (DCC) é um problema relativamente comum em cães idosos. Esta é uma doença neurodegenerativa relacionada com a idade, que se carateriza por um declínio cognitivo gradual e aumento de ocorrência de problemas cerebrais.

À medida que o cão vai envelhecendo, começa a acumular-se no seu cérebro a proteína beta-amilóide, criando depósitos chamados placas. Com o tempo, ocorre a morte das células nervosas, e o fluído cerebrospinal acumula o espaço vazio deixado por estas células. A perda dos neurónios leva também a atrofia cerebral, através de diversos processos. Podem também ocorrer alterações nos sistemas neuroquímicos.

Todas estas alterações levam aos sinais clínicos primários da DCC, como perda de memória, alterações na orientação espacial e alterações no sono REM.

A DCC afeta cerca de 14 a 22% dos cães com mais de 7 anos de idade. Estudos têm mostrado que 28% dos cães com 11-12 anos e 68% dos cães com mais de 15-16 anos apresentam um ou mais sintomas deste problema.

Não existem diferenças de prevalência entre raças, mas como os cães pequenos tendem a ter maior longevidade que os cães grandes, é tipicamente possível identificar neles mais sintomas.

Apesar de não se conhecer a causa da DCC, há sinais que fatores genéticos podem contribuir para este problema

Os sinais clínicos da DCC incluem coisas que os donos frequentemente descartam como sendo típicos da idade ou de senilidade, “comportamento de cão velho”, como por exemplo:

» Desorientação, não saber onde está, mesmo em locais familiares;

»  Aumento dos períodos de sono, especialmente durante o dia;

» Interações alteradas com a família (como assustar-se quando é mexido inesperadamente, tentar interagir cada vez menos ou, pelo contrário, revelar-se cada vez mais carente) ou com os outros cães (querendo interagir cada vez menos com eles), por vezes com sinais de agressividade (provavelmente por se assustarem com algum movimento inesperado);

» Dificuldades em reconhecer pessoas familiares e locais habituais;

» Perda da higiene (não, o cão não está a urinar e defecar em casa por amuo, frequentemente ele já nem se apercebe que está a fazê-lo);

» • Agitação;

» Choraminguice por tudo e por nada;

» Menor vontade ou perda de vontade de fazer as atividades preferidas, mesmo que seja um simples passeio;

» Deixar-se ficar a um canto;

»  Ladrar a objetos inanimados ou quando eles não se “comportam” como esperado, etc.

Há variabilidade individual nestes sintomas, nem todos os cães os apresentam todos.

Por: Carla Cruz, Aradik – Consultoria Técnica Canina