Esta entrevista realiza-se no âmbito das eleições do Clube Português de Canicultura, para o triénio 2021-2023, em que falámos com os três candidatos a Presidente da Direção.
Maria Amélia Taborda é a candidata a Presidente da Direção da Lista G – (Re)Pensar Canicultura.
Maria Amélia Taborda está ligada à Canicultura há cerca de 30 anos, assumindo-se como criadora seletiva de Bouvier Bernois, com o Afixo “Casa dos Herdeiros do Lobo”, com resultados expressivos. Como juiz de Morfologia Canina pode julgar Raças Portuguesas, Grupo 2 e parte significativa do Grupo 1. Convidada como palestrante, no país e estrangeiro, sobre Raças Portuguesas, o cão como mais-valia social e seleção de reprodutores na ótica do criador. Nos últimos 20 anos esteve ligada à organização de vários eventos técnicos e de morfologia. É a atual Presidente da Mesa da Assembleia Geral do CPC (em exercício).
Como descreveria a sua ligação ao Cão?
O Cão é uma parte de mim, como Beethoven, Roger Waters, “Citizen Kane” e “Cem Anos de Solidão.” O Cão faz com que eu seja melhor ser do que seria sem ele; é o companheiro de uma vida.
Com ou sem raça (porque também os tive), o Cão faz com que eu esteja hoje, aqui, a responder a meia dúzia de questões, que têm a ver com ele.
No entanto respeito-o de acordo com as características da sua espécie; nunca tentei humanizar, porque isso seria um enorme egoísmo e um atentado contra a sua funcionalidade/felicidade. Observá-lo, compreendê-lo têm sido as minhas prioridades e ao fim deste já longo percurso de vida sei que precisava de muito mais tempo para me sentir segura e falar dele com mais rigor. O Cão surpreende-me todos os dias e eu sinto-me confortável com isso.
No fundo faz parte da família sem ser meu “parente”.
O que é para si o Cão e a Canicultura?
A canicultura tal como tem sido entendida até agora, ou seja, “o processo de criar cães, desenvolvendo e aperfeiçoando um padrão, assente na observação de características comuns, quer morfológicas quer temperamentais”, conduziu-me a um percurso de vida muito gratificante, mas que envolve algum sofrimento (perdas de várias ordens, mas as afectivas são sempre mais complicadas).
Hoje em dia, pelas mudanças de costumes e até de mentalidades, o conceito de canicultura tem de ser (re)pensado para que possamos ter um papel mais activo e responsável em todas as áreas que envolvam o Cão. Mas sem nos desviarmos da nossa essência/existência e até da nossa responsabilidade histórica.
Ao longo dos anos esse conceito, falo de canicultura, tem sofrido várias adaptações por questões de sobrevivência. Uma actividade tão nobre, justificada pela funcionalidade e pela mais-valia social que o cão representa, é hoje fundamental para que o Cão seja visto por entidades devidamente creditadas como uma ferramenta. Parece forte, talvez até inconveniente utilizar este termo, mas é exactamente disso que se trata. Cães de Ajuda Social, Cães de Busca e Salvamento, Cães das Forças Militares e Militarizadas, Cães das Forças Policiais, Cães de Rebanho e manada, protecção e condução. E poderia chamar a atenção para outras funções. São na sua maior parte cães de raça por terem características morfológicas e temperamentais bem definidas.
Por isso mesmo a canicultura nunca será finita.
Qual o seu percurso na Canicultura organizada?
Sintetizar será difícil, apesar de grande parte desse percurso (e vou omitir outra parte significativa) ser conhecida de muita gente:
» Criadora consistente de Bouvier Bernois (durante cerca de 20 anos também do Cão da Terra Nova), com resultados reconhecidos no universo da minha raça. O meu, nosso afixo (meu marido tem aqui um papel decisivo), estão em muitos pedigrees em todo o mundo, ”Casa dos Herdeiros do Lobo” – Bouvier Bernois e “Atwater” – Cão da Terra Nova. Tenho de recordar aqui dois cães, um de cada raça, que marcaram para sempre as nossas vidas, respeitando todos os outros – “Oota-Dabum da Casa dos Herdeiros do Lobo” (viveu mais de 10 anos da sua vida em Itália) e “Atwater Crazy Diamond Borgoleonardo”, mais conhecido por “Bola”, que viveu 12 anos e meio na nossa casa onde nasceu;
» “Amante” indiscutível das Raças Portuguesas (doravante designadas por RP), enquanto património nacional;
» Comissária de Ringue durante cerca de 25 anos;
» Juiz de Morfologia, desde 2002 – RP, 2º Grupo e praticamente todo o 1º Grupo;
» Colaboradora em várias revistas da especialidade, televisões (onde participei em programas ligados ao Cão). Co-autora do Livro de RP, edição do CPC. Autora, em nome do CPC (experiência algo conturbada) da parte sobre canídeos da obra “Raças Autóctones Portuguesas” edição da DGAV. Co-autora dos flyers informativos sobre vários aspectos de canicultura com a chancela da República Portuguesa;
» Defensora consistente do Cão junto de outras Instituições, Ministério da Tutela e AR, onde fui recebida várias vezes, contribuindo para desbloquear alguns processos incómodos, tais como aqueles ligados à AT e ao SEPNA;
» Palestrante e formadora da(s) minha(s) raça(s), RP e “Selecção de Reprodutores na óptica do criador”, baseada na minha própria experiência, em vários países, dos quais destaco a Rússia, a Lituânia, a Polónia e claro em Portugal, por exemplo, na Universidade Vasco da Gama, Hospital Baixo-Vouga e GNR;
» Congressista com intervenções temáticas na Finlândia, Suíça, mas também em Portugal – 1º Congresso Internacional do Cão da Serra da Estrela e 1º Congresso Internacional Animais Ajuda Social;
» Organizadora de múltiplas acções de formação para Juízes, Jornadas das RP, Seminários sobre temas de grande interesse técnico, em todo o país, incluindo os Açores, sendo autora dos respectivos programas, bem como do Congresso Internacional do Cão de Água Português, onde pontificaram colaboradores diversificados, de excelência;
» Organizadora de vários eventos de Morfologia (e não só) dos quais destaco, obviamente, as Exposições de Aveiro, das quais me orgulho, deixando aqui o meu reconhecimento à Câmara Municipal de Aveiro e à equipa AveiroExpo com quem trabalho há 20 anos. Responsável de área no WDS 2001 e responsável pela parte lúdica do ringue de Honra;
» Membro da Comissão Norte; Membro da Comissão Técnica por 3 mandatos (não seguidos), tendo-me afastado por questões de princípio não ultrapassáveis;
» Vice-Presidente da MAG (2015/2018);
» Presidente da MAG (2018/2020), mandato que reputo de extremamente difícil, não só pela complexidade de assuntos sensíveis que tivemos de gerir, mas cujo desempenho mereceu o reconhecimento de uma entidade superior, mas também afectado pela COVID-19; mesmo assim cumprimos sempre o nosso dever, e aqui deixo o agradecimento à Luísa Rufino, Luís Varela e Paulo Coelho, sem eles teria sido ainda mais difícil.
Porque decidiu avançar com a Candidatura à Direção do Clube Português de Canicultura?
Não foi uma decisão fácil, mas, em determinado momento, foi inevitável. Há já bastante tempo que alguns sócios me desafiavam, mas com a dimensão associativa do CPC, tive de analisar vários ponderáveis. Mesmo convicta que podia contribuir para uma “Mudança Melhor” e cada vez mais distante dos objectivos de outros putativos candidatos, analisei o meu percurso, analisei o estado do CPC, diria, um pouco alheado duma realidade não muito favorável, analisei as demissões dentro do aparelho, algumas das quais incompreensíveis, e analisei o universo de actuação que os Estatutos nos permitem.
Não me achando dona da verdade, debrucei-me sobre o artigo 21.º dos Estatutos para realizar se teria a sabedoria para construir uma candidatura baseada numa escolha eminentemente técnica, que é aquilo que sinto ser uma zona por preencher dentro do CPC. Claro que a liderança, a resiliência foram igualmente aferidas para não haver as habituais desistências.
E encontrei quatro pessoas com um percurso reconhecido, capazes de cumprir o que se lhes pedirá, sem protagonismos.
E após ter terminado o mandato na MAG e por não haver nenhum impedimento legal, esta candidatura, que é de cinco pessoas, tomou corpo. E ainda bem! E foi apresentada ao público depois do calendário eleitoral ser anunciado a todos os associados.
Sei bem que se trata de uma candidatura diferente que apenas concorre pela vontade de fazer… e melhor.
Falando da vossa Lista, elegeram como mote “(Re)Pensar Canicultura”. Qual o significado desta escolha?
Meia resposta já foi dada no ponto anterior. A canicultura tal como entendida até agora tem vindo a ser alvo de ataques extremistas, mas também de alguns dos seus protagonistas.
Daí que, mais do que pensar, há que (Re)pensar Canicultura…Se outros têm sido maus exemplos por se esconderem ou por más práticas, nós queremos na verdade Mudar para Melhor! Fazer diferente, Pensar diferente, por necessário…
Esta candidatura apresenta-se como um espaço de convergência, onde todos possam opinar por bem e consistentemente; o que significará na prática um exercício de poder invertido, ou seja, a liderança é assente sobre um amplo consenso.
Esta candidatura é comprometida com o universo dos associados, não fez escolhas prematuras, não constituiu comissões, nem excluirá ninguém. Será a candidatura das competências, sem medos, sem exclusões.
É uma candidatura Ganhadora nos seus propósitos, porque na verdade o que urge é (Re)pensar Canicultura… a nossa vida mudou, no todo, mas não sabemos se para melhor… Na canicultura nada será como dantes, isso é certo e nós vamos prová-lo…Mudando para melhor!
Para finalizar, apresente os 4 candidatos a vice-presidente da Lista e quais as mais-valias que estes podem aportar para o futuro da Canicultura portuguesa.
Esta resposta terá no fim de cada apresentação umas palavras dos candidatos que reflectem o seu sentimento na hora de formarmos esta equipa.
» Carla Cruz
Uma bióloga que tem posto todo o seu conhecimento ao serviço da cinofilia, aliando a investigação científica e técnica a uma imensa intuição sobre o que é o Cão.
Prestativa, arguta, segura, a Carla tem colaborado em muitos eventos de cariz técnico, não só em Portugal, sempre disponível e muito profissional quando esclarece dúvidas que muitos de nós lhe pomos.
E de quando em vez, lá estava eu a colocar-lhe algumas questões de difícil resposta. Se ela se esforça por procurar clarificar, ajudar mesmo, imaginem a mais-valia que ela significa para um CPC melhor…
A dúvida foi então…”seria fácil encontrá-la a desempenhar um cargo aparentemente político?” Claro que sim e estou particularmente orgulhosa por ela ter aceite este desafio sem hesitações porque a sua presença, a sua pro-actividade dão-me (nos) uma imensa segurança.
Poderia apontar mais motivos para justificar esta opção, mas o seu curriculum, aliás como o de todos os outros fala por si.
“Participo neste projecto porque acredito que a canicultura é não só uma arte, mas também uma ciência, de que podemos e devemos beneficiar em prol de todos, em particular do nosso melhor companheiro – o Cão!”
Carla Cruz
» Paulo Coelho
É uma escolha natural, apesar da nossa relação desafiante. Transmite-me tranquilidade nas horas de decisão. Trocamos ideias, falamos de projectos possíveis ao longo dos anos, na perspectiva duma Mudança Melhor que prevenisse o futuro e desse lugar a uma juventude um tanto “desamparada” que começava a aparecer na nossa canicultura, principalmente nos eventos de morfologia.
Tem uma preparação ímpar para cumprir tudo aquilo que se pede a quem ocupa um lugar de proximidade, não só aos canicultores como também aos colaboradores do CPC.
Psicólogo experiente, lê muito bem qualquer situação de constrangimento ou conflito, procurando resolvê-las, com discrição e pro-actividade. Requisitos tão necessários no CPC do futuro. Algo que tem falhado no passado quando se confunde matéria que diz respeito aos sócios e assuntos de interesse público.
Acho que nos escolhemos um ao outro.
“Estou neste projecto com esta equipa porque acredito que é preciso mudar com sensatez, capacidade de trabalho, persistência, sem elitismos ou demagogias.”
Paulo Coelho
» Pedro Matos Trigo
É a voz que tem faltado a um CPC actuante. Não só para nos representar em todos os organismos políticos e não políticos com que temos de nos relacionar, como também em organizações emergentes na área do Cão.
Vai pôr toda a sua experiência na área da comunicação, assessoria de imprensa e até de imagem, ao serviço deste projecto, aliadas à sua vivência no mundo do cão onde tem um percurso, mesmo que interrompido, invejável.
E vai colocar os seus conhecimentos ao serviço da canicultura, projectando o CPC para o grande público.
Irá identificar os Órgãos de Comunicação Social que nos possam dar espaço quando necessário, mas também para termos direito de resposta em assuntos que nos digam respeito e que se apresentem como um ataque orquestrado.
Não sei ainda dizer se foi difícil para o Pedro aceitar integrar esta equipa, mas a minha intuição diz que este meu convite foi/é uma bela aposta.
“Continuo a acreditar na evolução com mudança tranquila, respeito pela história e valorização do património do Clube Português de Canicultura, agregando a vontade de todos os sócios e alargando a acção às múltiplas vertentes do Cão na sociedade, em que o Clube deve ter uma voz forte.”
Pedro Matos Trigo
» Luís Peixoto
O Luís Peixoto foi uma escolha muito reflectida e que envolveu uma enorme coragem. Alguém que vi sempre como uma pessoa muito empenhada, muito interessada, mas cuja vida e percurso profissional eram intimidantes.
Mas precisávamos desse Alguém…para analisar os desafios que se nos deparam, projectos de alguma dimensão social e financeira, enfim, alguém com visão transversal do mundo global onde o Cão também tem assento.
Por algum tempo pensei ouvir um Não rotundo, mas com a lucidez do Paulo que me acompanhou na construção desta equipa desde o início, ouvimos o Sim incondicional que um CPC Melhor necessita, através da Mudança.
“Apresento-me agora num projecto que, não sendo contra nada, é apenas a favor de um Amigo… o Cão de todos nós.”
Luís Peixoto
Trata-se de uma equipa tranquila, focada, muito unida num projecto de 5 que só tem um líder porque o regimento político (Estatutos) a isso obriga.
Somos pessoas comprometidas, que não fazem da demissão o seu lema de vida, somos uma equipa que tem objectivos realistas e bem definidos.
Queremos incluir nesta proposta todos aqueles que partilham as nossas preocupações, mas também os outros.
Sabemos que podemos Mudar para Melhor o CPC sob o lema “(Re)pensar Canicultura.
Para mais informações:
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