Esta entrevista realiza-se no âmbito das eleições do Clube Português de Canicultura, para o triénio 2021-2023, em que falámos com os três candidatos a Presidente da Direção.
José Homem de Mello é o candidato a Presidente da Direção da Lista H – Um CPC para Todos.
José Homem de Mello esteve ligado a várias raças, nomeadamente Pinscher Miniatura, Boxer, Dálmata e Cão de Pastor Alemão. O seu trabalho com a raça Basset Hound teve início na década de 80, criando sob o afixo “dos Sete Moinhos”, contando com campeões de vários países, campeões internacionais, vencedores europeus e 15 vencedores mundiais. Em 1995, o exemplar “Humphrey dos Sete Moinhos” foi o Melhor Exemplar da Exposição Mundial de Bruxelas. É fundador do Basset Hound Clube de Portugal, em 1982, do qual é Presidente. É juiz all breeds da FCI desde 2015. Em 2020, foi convidado a julgar a raça Basset Hound na Crufts.
Como descreveria a sua ligação ao Cão?
Não tenho memória de viver sem cães, pois o meu primeiro cão foi um Cão da Serra da Estrela que me foi oferecido pelo meu avô quando tinha pouco mais de um ano de idade, assim a minha vida sempre esteve ligada aos cães, mas não só. Sempre gostei muito de animais e a minha juventude esteve muito ligada aos cavalos, pois pratiquei hipismo desde tenra idade e competi durante vários anos, até 1975, em várias modalidades, nomeadamente corridas de galope, trote atrelado e saltos.
Ter um cão para mim faz parte da minha vida. Sou um homem de “cão”. Desde que me reformei em junho de 2019, depois de 42 anos à frente de uma editora, e a viajar constantemente por esse mundo fora, eu próprio me ocupo dos meus cães. Todas as manhãs a primeira coisa que faço depois de me levantar é ocupar-me deles, dando-lhes a primeira de duas refeições que tomam por dia, e limpando as suas instalações, que se situam no rés do chão de minha casa. Todos os meus cães sempre viveram comigo em casa, este é um aspeto que considero essencial. Creio que um dos pontos fundamentais para a sua sociabilização e saúde.
Os passeios pela Serra de Carnaxide, local onde vivo, permitem a manutenção da sua forma e, nestes tempos de pandemia e consequente confinamento, são também um enorme contributo para o meu bem-estar.
Ao final do dia enquanto eu e a minha mulher vemos televisão ou estamos a ler, os cães são sempre uma presença obrigatória, que eles próprios não dispensam.
Quando estou no meu escritório, a responder a perguntas, como neste caso, ou a responder aos meus emails, a presença de um Basset Hound, numa confortável cama que todos adoram e cobiçam é essencial.
Os cães são por isso parte essencial na minha vida.
O que é para si o Cão e a Canicultura?
O Cão e a Canicultura são para mim um hobby que levo muito a sério.
No que se refere ao “cão”, creio que ele é uma extensão do ser humano e a ele devemos muito da nossa evolução.
Cada vez mais o cão nos surpreende. Primeiro como companheiro e ajuda na subsistência e proteção do homem. Depois e com a criação das diferentes raças, as mesmas vieram preencher várias necessidades humanas, desde a proteção, passando pela caça, até à companhia. Mais recentemente, estes nossos fiéis amigos não param de nos surpreender com a sua utilização em novas formas de terapias e deteções biológicas, como por exemplo, da diabetes e mais recentemente do COVID.
No que se refere à “canicultura” vejo-a como a “arte” de criar cães e de desenvolver e apurar as suas raças, de uma forma sustentável, coerente, responsável e séria, trabalhando com elas e com tudo o que envolve o cão. Para mim, a canicultura é a congregação de tudo onde o cão está presente direta ou indiretamente.
Não podemos menosprezar o trabalho feito pelos nossos antepassados quando, por necessidades específicas, criaram as raças que nos legaram. Sem uma criação bem pensada e estruturada não teríamos cães de raça pura e logo canicultura.
Embora a genética e a análise de pedigrees sejam extremamente importantes quando criamos, existe uma dose muito grande de “arte” no processo de apuramento e desenvolvimento de uma raça. Para mim, criar é uma paixão, e esta deve ser génese de quem cria uma ou mais raças.
No meu caso concreto faço canicultura sempre que dedico parte da minha vida aos meus cães, à sua criação e a tudo o que está relacionado com o “cão” tanto a nível desportivo como associativo.
Qual o seu percurso na Canicultura organizada?
A minha paixão pela raça Basset Hound começou na Alemanha, em Berlim, na altura Berlim Ocidental, onde numa florista que se situava no prédio do Consulado Geral de Portugal, onde trabalhava, tinha um Basset Hound a quem eu fazia muitas festas todos os dias. Quando regressei a Portugal, comecei a procurar um exemplar o que aconteceu em 1980.
Comecei a expor Basset Hound em 1981 e a minha primeira ninhada com o afixo “dos Sete Moinhos” nasceu em 1984.
Com os meus Basset Hound a nível nacional, além dos inúmeros campeões que criei, os meus cães venceram inúmeros Best in Show e dez vezes, o prémio do Melhor Cão do Ano em Portugal. A nível internacional os meus cães venceram inúmeros Best in Show de entre os quais destaco os da Mundial 1995 em Bruxelas, Collare D’oro 2001 em Milão e Helsinki Winner 2003.
No meu caso concreto, a criação da raça Basset Hound, a minha raça de eleição, tem como objetivo desde o início deste meu projeto, a criação de exemplares saudáveis e o mais próximo possível do estalão, tanto a nível morfológico como a nível do seu temperamento. Creio que tenho conseguido aproximar-me deste meu objetivo, ainda que não totalmente, pois não existem cães perfeitos. Tenho criado exemplares que têm obtido inúmeros galardões a nível nacional e mundial.
Em 1982 fui um dos fundadores do Basset Hound Clube de Portugal, o mais antigo clube de raça português em atividade, de que sou presidente.
Seguiu-se a aspiração de ser juiz e em janeiro de 1988 fui reconhecido pelo Clube Português de Canicultura e Federação Cinológica Internacional como juiz, passando a poder conceder CAC’s e CACIB’s na raça Basset Hound.
Após essa data iniciei um longo processo de credenciação para julgar outras raças e grupos, onde me posso orgulhar de nunca ter reprovado no exame de nenhuma raça, tendo sido reconhecido como juiz de todas as raças 27 anos e dois meses depois, em abril de 2015. Em 2020, julguei o que posso considerar a minha mais prestigiante aticidade como juiz e criador, julgando a raça Basset Hound na mais icónica exposição do mundo, o Crufts.
Fui nomeado Vogal da Secção de Canicultura do então Clube de Caçadores Portugueses em 1985 e sou sócio fundador do Clube Português de Canicultura, tendo colaborado e acompanhado de perto o processo de transição para o atual clube, pois na altura fazia parte da direção da referida secção, mandato 1991/1993.
Desde 1987 tenho vindo a fazer parte de diversas comissões do Clube Português de Canicultura.
Porque decidiu avançar com a Candidatura à Direção do Clube Português de Canicultura?
A razão é simples, o Clube está fechado em si próprio e com uma gestão e comunicação arcaica. É urgente abri-lo à sociedade para que não se torne amorfo.
Na minha opinião, urge modernizar a gestão do CPC, tornar o nosso clube atual e adaptado às novas tecnologias, para se afirmar no presente e preparando-o para o futuro. Criar infraestruturas digitais e plataformas de comunicação que possam ser uma mais valia para os seus sócios e canicultores, promovendo as gerações atuais e motivando as mais novas para a participação na vida do CPC, garantindo assim o futuro da canicultura no nosso país.
O CPC tem de abrir as suas portas a todos os canicultores e sócios, fomentando a participação nas suas atividades, com uma gestão transparente e pró-ativa. O Clube é de todos os sócios e para seu proveito, temos de ter orgulho em pertencer a esta família e aumentar os seus membros, unidos e motivados pois queremos “Um CPC para Todos”.
Recentemente temos ouvido falar em propostas da lista encabeçada pela atual Presidente do CPC, prometendo ideias, processos e métodos, muitos deles bastantes similares com as propostas que temos apresentado nos nossos eventos, mas são propostas que a atual direção não efetuou, nem quis efetuar, ao longo de mais três décadas, o que demonstra que estamos realmente na hora da necessária mudança.
Falando da vossa Lista, elegeram como mote “Um CPC para Todos”. Qual o significado desta escolha?
Esta é uma candidatura à Direção do Clube Português de Canicultura que tem o objetivo de o renovar para “Um CPC para Todos”.
Se queremos ter representatividade, o CPC tem que se abrir à sociedade, incentivar, divulgar e agregar todas as atividades e modalidades que envolvam o cão e divulgar de forma profissional e expressiva as valências únicas do cão de raça. Pretendemos tornar o CPC a entidade de referência nacional relativamente ao cão e em particular o cão de raça. Registar um cão, definindo o seu padrão como raça é uma mais valia para a sociedade, que urge informar e consciencializar, pois, só assim é possível garantir os genes e características necessárias à sua funcionalidade e a um sem número de atividades, sejam elas de lazer ou de utilidade social, que precisam de ser protegidas e potenciadas. Saber comunicar, saber passar a mensagem e promover o cão de raça na sociedade é um dos pilares identificados, e que de uma forma profissional será transversal a todos os domínios da Canicultura. O CPC tem que ser o eixo central e a referência do cão em Portugal e este será um dos nossos fortes compromissos para com todos os sócios.
Para finalizar, apresente os 4 candidatos a vice-presidente da Lista e quais as mais-valias que estes podem aportar para o futuro da Canicultura portuguesa.
» António Paula Soares
O António Paula Soares, é um jovem licenciado em Engenharia Biofísica pela Universidade de Évora, e pós-graduado em Gestão Empresarial pelo INDEG-ISCTE, vive em Águas de Moura, em plena paisagem protegida da Reserva Natural do Estuário do Sado onde em conjunto com a família criam English Springer Spaniel, raça que apadrinharam por herança familiar, com cães dessa raça na família desde os anos 40. Têm tido um papel importante na raça, com cães de qualidade, com resultados relevantes, quer em Portugal, quer na Europa, em mundiais, europeus, e com excelentes resultados também na Crufts.
A particularidade da sua vida profissional levou-o ao longo dos anos a tornar-se ativo como representante da sociedade civil, e do mundo rural em particular, assumindo diversos cargos em entidades de prestígio nacional e internacional, donde se destacam os cargos que representa atualmente, como a Presidência da ANPC – Associação Nacional de Proprietários Rurais, Gestão Cinegética e Biodiversidade, membro da Direção da CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal, membro da Direção da CEPF – Confederação dos Proprietários Florestais Europeus, e o importante cargo de Chairman do Grupo de Diálogo Civil “Forestry & Cork” da Comissão Europeia. De realce o seu papel como Presidente da Plataforma Sociedade e Animais, que em conjunto com o CPC conseguiu travar diversos ataques à canicultura nos últimos anos na Assembleia da República.
Paralelamente, o gosto pela escrita e pelo debate de ideias proporcionou-lhe convites para a escrita de artigos de opinião em diversos órgãos de comunicação nacional e participação em eventos nacionais e internacionais, de onde se destacam os diversos artigos na revista Sábado online ou o papel de comentador residente do programa ambiental “Som Ambiente” do Observador, onde assume o papel de defesa de um mundo rural e das suas atividades, que cada vez se encontram mais distantes e desconhecidos de uma sociedade cada vez mais urbana.
» Rui Alves Monteiro
O Rui Alves Monteiro, tem 45 anos, casado e pai de dois filhos, que partilham a vida familiar com duas Laekenois, duas perdigueiras, uma Deerhound e uma cadela sem raça adotada num canil municipal.
Falar do Rui normalmente é falar em Chupa Chups e Pastores Belgas, as duas paixões que quem o conhece sabe que fala delas com uma grande paixão.
É Licenciado em Gestão com várias pós-graduações em Marketing e Vendas, sendo o responsável pela multinacional Chupa Chups em Portugal e quer colocar ao serviço do CPC as suas competências profissionais e ajudar a construir um clube para Todos e com futuro.
O primeiro cão de raça que teve foi um Boxer, em 1992. Sem registo conseguiu levá-lo a fazer RI e foi o seu grande companheiro na vida académica em Coimbra. Na sua multifacetada vida e nos inúmeros contactos que faz leva sempre a canicultura no coração, até nas apresentações profissionais internacionais onde arranja sempre forma de incluir o cão de raça e os seus pastores belgas nas conversas e apresentações, não há ninguém no mundo dos Chupa Chups que não tenham contacto com a canicultura, nem na canicultura que não tenham contacto com os Chupa Chups.
A paixão pelos cães, pela sua funcionalidade e a mudança de vida para o campo tornaram-no caçador e surgiu uma relação especial com o Perdigueiro Português, o seu cão de caça de eleição e teve recentemente a sua primeira ninhada com uma grande promessa a nível funcional e morfológica.
É juiz do primeiro grupo, foi convidado para julgar todas as monográficas mais relevantes da raça Pastor Belga, desde os EUA à Austrália e em quase todos os países da Europa.
É uma pessoa de cão, como costumamos dizer no meio.
» Rui Oliveira
Conheço o Rui Oliveira desde que comecei a participar em exposições caninas! É um amante de Lisboa, sendo mesmo um embaixador da nossa cidade para muitos canicultores estrangeiros que visitam Portugal. Do seu pai herdou o gosto pela caça e pelos cães de parar e foi em 1976 com uma Pointer que surge numa exposição pela primeira vez. Mas foi nas frequentes viagens ao Reino Unido, que visitando muitos criadores e amigos, aprendeu a amar e conhecer o Pointer.
Com o Afixo “Vale Carvoeiro”, e mais tarde conjuntamente com o seu amigo de infância Zeferino Silva, criou, importou e expôs diversos exemplares com bastante sucesso mundial, inclusive no Reino Unido.
Foi professor durante mais de 30 anos, de físicas e matemáticas, tendo tido bastante sucesso nos resultados dos seus alunos, muitos deles filhos de canicultores, agora adultos, e profissionais de sucesso.
Em 1985, tornou-se juiz de morfologia canina do CPC, sendo atualmente juiz all breeds. Julgou em 68 países nos 5 continentes, o que lhe permitiu ter uma visão mais alargada da canicultura mundial. Julgou em várias exposições Europeias, Mundiais e algumas das mais prestigiosas do Reino Unido. Mas o seu maior orgulho como criador e juiz, foi ter julgado em 2016 a raça Pointer na famosa Crufts.
Foi Vogal da antiga Secção de Canicultura do Clube dos Caçadores Portugueses e atualmente sócio do Clube Português de Canicultura, tendo feito parte de diversas comissões e da Direção. É também membro do Kennel Club e membro eleito da Comissão de estalões da FCI.
O interesse pelo melhoramento da parte técnica das raças portuguesas e a necessidade de partilha de informação fez com que elaborasse estudos técnicos e artigos sobre algumas delas. Sobre o cão de Água Português fez um estudo técnico, amplamente difundido pelos clubes da raça no estrangeiro. Escreveu diversos artigos sobre o Perdigueiro Português em publicações estrangeiras. Membro da Comissão de estalões da FCI trabalhou no que culminou com a aprovação internacional do cão de Gado Transmontano como uma nova raça portuguesa.
Sem dúvida uma vida dedicada à canicultura.
» Zeferino Silva
Falar de Zeferino Silva é falar de outro grande amigo e canicultor. Conheço-o há mais de 45 anos, criando e participando em inúmeras exposições com os seus Cockers Americanos “Temples´s Knight” e mais recentemente com Pointers tendo atingido sempre inúmeros grandes prémios.
É Engenheiro Eletrotécnico pelo IST e fez o programa Avançado de Marketing para executivos da Universidade Católica, entre outros. Esteve integrado em grandes empresas internacionais, nas áreas de desenvolvimento de processos de produção e teste, fez parte da Direção de Marketing, desenvolvendo e gerindo produtos para grandes clientes como a Banca, entre outros. Atualmente casado, reformado, vive perto de Lisboa, com alguns Pointers e um Papillon. O Zeferino é também um amante das Artes Plásticas e tem uma galeria de arte no centro de Lisboa.
Foi reconhecido em 1995 como juiz do Clube Português de Canicultura e da FCI. Passou depois um longo período julgando e alargando a autorização para outras raças, tendo sido reconhecido como juiz de todas as raças em abril 2015 e julgado em diversas partes do mundo.
Criou ainda algumas ninhadas das raças Galgo Afegão e Whippet. Nas últimas décadas, juntamente com o seu amigo de infância Rui Oliveira, recomeçou a criação de English Pointer, com o afixo “Vale Carvoeiro”, tendo conseguido obter excelentes resultados internacionais, nomeadamente o título de “World Winner”.
Foi fundador do Clube do Cocker que mais tarde se converteu no Spaniel Clube de Portugal, onde foi presidente. Esteve ainda envolvido na fundação do Clube dos Galgos – APGOIC. Foi vogal da secção de canicultura do Clube de Caçadores Portugueses, sócio fundador do Clube Português de Canicultura, e participou e colaborou em diversas Comissões, foi membro da Direção e do Conselho Disciplinar. Considera-se cheio de sorte por tudo aquilo que os cães lhe deram e permitiram obter: amizades, conhecimentos e principalmente a paixão pelo cão de raça e tudo aquilo que o envolve.
Para mais informações:
www.umcpcparatodos.pt
www.facebook.com/umcpcparatodos