Entrevista a Carla Molinari | Todos pela Canicultura

Esta entrevista realiza-se no âmbito das eleições do Clube Português de Canicultura, para o triénio 2021-2023, em que falámos com os três candidatos a Presidente da Direção.

Carla Molinari é a candidata a Presidente da Direção da Lista I – Todos pela Canicultura.

Carla Molinari iniciou o seu percurso como expositora e criadora em 1963, com a raça Cão de Pastor Alemão, sob o Afixo “Do Vale Negro”. Obteve durante o seu percurso grandes sucessos com várias raças, nomeadamente: Galgo Afegão, Saluki, Whippet, Cão de Água Português e Podengo Português Pequeno. Tem uma forte ligação às raças portuguesas, sendo criadora, autora de livros e de diversas publicações sobre estas. Como juiz all breeds da FCI tem julgado eventos caninos por todo o mundo, incluindo Exposições Mundiais e a Crufts, na qual julgou o Grupo Hound em 2015. É membro eleito do Comité Geral da FCI desde 1997, onde exerceu cargos de Tesoureira e Vice Presidente. A sua ligação ao Clube Português de Canicultura remonta a 1968, quando foi nomeada Vogal e continuou até hoje, ocupando diversos cargos diretivos, sendo a atual Presidente da Direção.

Como descreveria a sua ligação ao Cão?
A minha ligação com o cão é de toda a minha vida! Desde a minha infância mostrei ter uma enorme comunicação com os cães.
Tive o meu primeiro cão aos 8 anos, uma cadela Fox Terrier de pelo cerdoso, que vivia em casa dos meus avós, porque o meu pai não era favorável a essa minha paixão. Já com essa idade ia a todas as exposições caninas com os meus avós e até participei em concursos com cães emprestados. Tenho algures um recorte de jornal onde estou a apresentar um Setter na Exposição do Estoril, na altura realizada no pinhal do Estoril, devia ter uns 9 ou 10 anos.
Desde que tenho memória a minha vida tem sido partilhada com o mundo dos cães e por eles sinto uma profunda empatia e uma comunicação instantânea. Na rua é normal os cães virem ter comigo para me cumprimentar, e muitos até atravessam a rua para me vir falar! A empatia que sinto pelos cães é, sem dúvida, um sentimento mútuo.

O que é para si o Cão e a Canicultura?
Os cães são em primeiro lugar os nossos grandes amigos e companheiros. Para fazer Canicultura temos sempre de partir desse pressuposto basilar. A seguir vem a paixão ou a afinidade por uma certa raça, normalmente a que se coaduna melhor com a nossa personalidade. E assim, nasce o desejo de aprender a fundo tudo sobre essa raça e de a criar. O meu percurso foi esse.
Tinha uma enorme sede de conhecimento da Canicultura e passava horas a ler livros de cães, a estudar pedigrees, cheguei a decorar o conteúdo de todos os livros do LOP publicados pelo Clube. Sabia os nomes de quase todos os cães registados no CPC e até dos seus antepassados e proprietários!
Mas também há outro tipo de relacionamento importante, o de cariz funcional, que se transforma em paixão pela funcionalidade do cão que nos acompanha e que partilha connosco momentos de grande cumplicidade.
Os cães de caça, de utilidade e de desporto são um exemplo disso e uma mais-valia enorme para a Canicultura. Trazem-nos adeptos muito apaixonados, provenientes de vertentes muito diferentes do mundo das exposições caninas, mas que são de fundamental importância para a Canicultura e para o reconhecimento do enorme valor social dos nossos cães.

Qual o seu percurso na Canicultura organizada?
Desde muito nova, dediquei-me à Canicultura organizada frequentando o Clube, que nessa época era um pequeno escritório num terceiro andar sem elevador em Lisboa, no Rossio. Aí passava tardes inteiras a ajudar no atendimento ao público, e até a fazer, à máquina de escrever, pedigrees e certificados genealógicos. A minha presença era aceite e tolerada pelos Senhores da Direção dessa época, que me achavam um pouco estranha e com ideias demasiado modernistas. Nas horas livres estudava com afinco os Livros da biblioteca do Clube e os livros do LOP.
Foi o Dr. António Cabral, Veterinário do meu primeiro cão (a Fox Terrier), que se apercebendo da minha profunda paixão pelos cães, me incentivou a frequentar o Clube. Nessa época, ele era o Presidente da Direção do Clube e eu uma adolescente de 14 ou 15 anos. Alguns anos mais tarde, foi ele que me convidou para fazer parte da Direção do Clube.
Seria impossível descrever em poucas frases o meu percurso na Canicultura organizada. Tem sido uma vida inteira de dedicação ao CPC e ao mundo dos cães. Desde uma criança apaixonada por cães, até me tornar em gestora institucional, Juiz Internacional e Membro da Federação Cinológica Internacional. Hoje em dia, o meu nome é conhecido e respeitado mundialmente e é identificado com o nosso país, de qual tenho sido uma firme e incondicional embaixadora.
Posso só dizer que com o passar dos anos abdiquei de valorizar o meu percurso como criadora e expositora para me dedicar inteiramente ao Clube e à Canicultura organizada.
Muitos dos canicultores Portugueses hoje em dia desconhecem completamente essa faceta do meu percurso. Eu sou, e continuarei a ser, uma criadora apaixonada por essa vertente da Canicultura, e prezo-me por conseguir criar cães com um tipo específico e típico das minhas linhas.
Porém, quanto a expor e a competir em ringue, sou extremamente cuidadosa. Nessa área sou muito low profile, por opção, e entendo que quem dirige um Clube de Canicultura deve pôr o seu percurso de expositor em standby.
Houve uma época em que os meus cães (em várias raças) acumulavam vitórias em ringue e títulos importantes, incluindo Best in Shows e até Melhores do Ano. Tenho duas centenas de campeões criados por mim em 5 ou 6 raças diferentes, em pelo menos 10 países. Só Cães de Água foram 60. Ainda hoje em dia, isso é reconhecido internacionalmente e é imensamente gratificante para mim, saber que a partir de cães da minha criação, outros criadores fizeram as suas linhas, sendo algumas até bastante famosas.
Em breve estilo de CV, posso dizer que iniciei a criação de cães em 1963 com o Afixo “Do Vale Negro” e a minha primeira raça foi o Cão de Pastor Alemão. Importei de Itália três cães topo de gama para a época com os quais obtive excelentes resultados em ringue. Dediquei-me ao longo dos subsequentes anos a diversas outras raças com as quais também tive inúmeros sucessos.
Cedo dediquei-me às Raças Portuguesas pelas quais nutro uma profunda paixão. Fui responsável pelo Centro de criação de Raças Portuguesas do Jardim Zoológico de Lisboa e fundadora e Administradora da Fundação S. Francisco de Assis, que na época tinha por objetivo, entre outros, o da preservação das Raças Portuguesas.
Integrei diversas Direções do Clube Português de Canicultura trabalhando mais de uma década com o Dr. António Cabral na Secção de Canicultura do Clube dos Caçadores Portugueses e tive parte ativa na formação do atual Clube e na sua obtenção do estatuto de Utilidade Pública.
Liderei a equipa que organizou o Campeonato da Europa FCI em Cascais em 1994 e a Mundial FCI do Porto em 2001 que foram dois marcos importantes para o nosso crescimento. O Campeonato do Mundo de Caça e o Campeonato do Mundo de Mondioring em 2006 foram outros dois eventos de relevo, assim como o Congresso Internacional do Cão de Água Português em 2013. Recentemente consegui o acordo interpares entre os quatro Clubes de Canicultura de expressão latina, criando assim a Aliança Canina Latina onde Portugal está de pleno direito.
O meu inteiro contributo na gestão do Clube é fácil de descobrir consultando o historial do próprio Clube. Não me vou alongar sobre o meu percurso como gestora, nem como juiz a nível internacional, mas basta-me dizer que tive enormes satisfações e reconhecimento em ambas as áreas. Iniciei-me como juiz em 1976 e nessa qualidade já dei várias voltas ao mundo tendo julgado em mais de 50 países ao mais alto nível.

Aliança Canina Latina (2019)

Porque decidiu avançar com a Candidatura à Direção do Clube Português de Canicultura?
Penso que o meu percurso ao longo dos anos de gestão do Clube, para quem se deu ao trabalho de o analisar, foi sempre um percurso de trazer inovação e a mudança possível na Canicultura organizada.
Obviamente estas inovações e mudanças são sempre condicionadas pela obrigação que uma Direção tem de se cingir ao cumprimento dos Estatutos do Clube e pela forma como estes restringem a nossa atuação como dirigentes.
Seria para mim impensável numa campanha eleitoral, prometer o que não é possível concretizar segundo os nossos Estatutos e Regulamentos, o equivalente a vender sonhos irreais e à partida irrealizáveis.
Acho que para operar grandes mudanças, a alteração dos Estatutos do Clube é imprescindível neste momento, se quisermos mesmo inovar, e eu quero!
Contudo, alterar Estatutos e Regulamentos não é tarefa fácil e requer, para além de os modificar de forma correta e consistente, criar uma Comissão para o efeito, convocar Assembleias Gerais e obter a aprovação da maioria dos sócios (75% no caso dos Estatutos).
Não é tarefa fácil pelo que teremos sempre, entretanto de tentar contornar e modernizar dentro das limitações que nos são ainda impostas. É bom lembrar que os mandatos são de 3 anos e que este próximo mandato, devido à situação epidemiológica, será um mandato ainda mais curto.
Outro aspeto importante é a garantia da estabilidade financeira da nossa organização. O nosso Clube ao longo dos anos tem crescido muito e tem uma situação financeira estável que será muito importante manter sem entrar em projetos megalómanos, porque o futuro da Canicultura organizada é neste momento bastante incerto.
Estamos na mira de muitos movimentos anti-cão de raça e anti-criação e cada vez mais a legislação que nos provêm das imposições da UE é desfavorável e limitativa para os nossos criadores. A gestão dos registos no LOP são a base da nossa existência e é o que nos permite financiar todas as áreas da Canicultura. É necessário conseguir assegurar a manutenção das condições para que os nossos criadores continuem a poder subsistir e a fazer trabalho de criação.
Manter uma gestão prudente e consciente é imprescindível para assegurar essa continuidade e para o bem de todos os intervenientes. Há que ser cuidadoso na forma como se gerem os fundos do Clube sem embarcar em projetos de alto risco.
Porque o que é certo, é que estamos no limiar de uma nova fase mundial para a Canicultura organizada, onde todas as bases que criaram a nossa atividade estão postas em jogo. O caminho certo e fundamental, no meu entender, será o de assegurar o impacto social e a importância dos nossos cães, e da sua funcionalidade, assegurando sempre o seu bem-estar, e de investir fortemente nessas áreas.
Por esse motivo, neste novo projeto faço-me acompanhar de uma equipa totalmente renovada e empenhada em assegurar a continuidade e a operar essa mudança. Uma equipa com elementos de valências diversificadas, que alia conhecimento técnico e experiência, com juventude e ideias novas de cariz e impacto profundamente social.

Falando da vossa Lista, elegeram como mote “Todos pela Canicultura”. Qual o significado desta escolha?
Porque somos todos incondicionalmente pela Canicultura e pela proteção e valorização do cão e dos seus criadores e tutores. Porque entendemos ser essa a maior prioridade, que devem ter neste momento todos os que querem a continuidade da canicultura em Portugal.
Todos devemos ter o objetivo de conseguir poder assegurar o futuro do nosso Clube. Temos plena consciência que só com o esforço e a participação ativa de todos os que são verdadeiros canicultores é que isso será possível.
É sem dúvida um apelo e uma forte chamada de atenção para a realidade presente do nosso mundo.
Devemos ser “Todos pela Canicultura” se queremos garantir a sua continuidade.

Para finalizar, apresente os 4 candidatos a vice-presidente da Lista e quais as mais-valias que estes podem aportar para o futuro da Canicultura portuguesa.

» Carlos Mocho
O Carlos é bem conhecido do mundo da Canicultura e das Exposições Caninas pelo seu trabalho nessa área, nomeadamente, mas não só, na formação de Comissários e apoio à organização de eventos de morfologia Canina. É Arquiteto de formação e Professor de profissão.
Tem feito parte da Comissão de Exposições do Clube da qual conhece bem o funcionamento. É Juiz e criador há muitos anos e é também, sem dúvida, um perfecionista exigente. Será um pilar importante nesta equipa e uma mais-valia na área das formações.

 

» Eduarda de Sousa Pires
A Eduarda entrou no mundo da Canicultura há muitos anos na área do Trabalho através do Obedience, na qual foi, para além de Juiz, hexa Campeã Nacional de Obediência, três vezes Vice-Campeã Nacional e Campeã Ibérica da modalidade, tendo integrado uma anterior comissão da Modalidade.
No entanto, o grande contributo que espero da Eduarda e para o qual sinto que ela esteja totalmente capacitada e motivada é o da área do impacto social da Canicultura. Professora, Docente Universitária, e preocupada com as áreas da Intervenção Social e das Terapias Assistidas, a Eduarda tem pela frente a implementação de um projeto ambicioso, mas fulcral, para o futuro da Canicultura.

 

» Francisco Salvador Janeiro
O Salvador Janeiro é sobejamente conhecido por todos e tem um percurso de exceção no mundo da Canicultura ao qual pertence há varias décadas, e no qual tem deixado o seu marco muito especial. É Juiz criador, dirigente associativo, organizador de eventos e grande amante das Raças Portuguesas.
É, sem dúvida, uma enorme mais valia tê-lo na nossa equipa pela sua larga experiência e pelos seus conhecimentos técnicos de Canicultura. Mas também pelas suas qualidades humanas e pelo grande amor e respeito que tem pelos cães e pela Canicultura.

 

» Pedro Marques Rodrigues
O Pedro é um jovem canicultor que frequenta o nosso meio desde sempre, dedicando-se à criação de duas Raças Portuguesas pelas quais tem grande paixão. Vive no ambiente da Canicultura desde a sua infância, em contacto com o mundo rural que ama e respeita.
Mas é também um jovem com um interessante percurso de dirigente político a nível municipal e partidário, que tem ideias novas e uma dinâmica moderna de atuação. Terá um grande trabalho a fazer na implementação de diversos projetos inovadores que fazem parte do nosso programa da Direção.

Para mais informações:
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