Confrontada diariamente com questões relacionadas com eventuais variações do número de animais abandonados desde o início da pandemia de Covid-19, a Animalife decidiu efetuar um novo inquérito junto de mais de 200 associações de proteção animal do país.
Este inquérito segue-se a um primeiro, realizado no final de março, logo no início da pandemia, em que procuraram auscultar quais as principais dificuldades sentidas no terreno pelas associações, tendo em vista estudar novas formas de apoio.
As conclusões deste segundo estudo não deixam dúvidas: o abandono de animais subiu significativamente na sequência da pandemia, ao passo que o número de adoções desceu.
As dificuldades económicas das famílias, a par com a incapacidade para garantir bens e serviços de primeira necessidade, como alimentação ou tratamentos médico-veterinários aos animais, são atualmente as duas grandes causas que levam ao abandono em Portugal.
À questão muito frequente nos últimos tempos “Houve efetivamente um aumento do número de abandonos na sequência da pandemia de Covid-19?”, a resposta é “Claramente sim”.
A esta pergunta, quase 90% das associações responde afirmativamente, com apenas 11,4% a afirmar não ter registado um aumento do número de animais abandonados. A maioria das associações aponta para uma taxa de abandono entre os 10% e os 20%. Mas mais de 20% das associações admitem uma subida bem mais significativa – superior a 30%.
As dificuldades económicas decorrentes da pandemia, provocadas por exemplo por situações de desemprego, são a principal causa invocada para justificar o aumento do número de animais abandonados neste período, com quase metade das associações a apontarem esta como a principal justificação.
A maior dificuldade no acesso a bens e serviços de primeira necessidade, como alimentação ou tratamentos médico-veterinários, é o segundo motivo apontado para justificar o abandono.
Contrariamente aos números do abandono – que dispararam –, o número de adoções caiu durante o período da pandemia. Mais de metade das associações admite que esse número baixou. E as restantes apontam para taxas de crescimento fracas (até 20%).
As novas adoções ficaram, na sua maioria, a dever-se ao aumento do tempo disponível para dedicar aos animais, na sequência do confinamento ou do teletrabalho. Houve também muitos animais adotados neste período com o objetivo de fazerem companhia a um outro animal já existente na família.
O inquérito agora efetuado permitiu ainda concluir que as receitas e os donativos da associação diminuíram desde o início da pandemia. Esta foi uma realidade para mais de 90% das associações, sendo que para mais de metade a queda dos apoios é classificada como “drástica”.
As associações perderam principalmente apoios por parte de pessoas individuais (mais de 80%) e de entidades privadas. Algumas viram ainda diminuir o número de esterilizações de animais no âmbito dos programas CED.
A maioria das associações (60,7%) admite que tem tido alguma dificuldade no acesso a produtos/bens necessários ao seu dia-a-dia. Entre os bens que as associações têm sentido maior dificuldade em assegurar contam-se os desparasitantes (59,3%), alimentação para gato (51,4%) e alimentação para cão (49,3%). Algumas associações referem ainda a falta de medicamentos e de areia para gato.