O Braco Alemão de pelo curto (Deutsch Kurzhaar no seu país de origem) é uma das mais populares raças de cães de parar do mundo. O seu caráter dócil, mas corajoso, a sua elevada capacidade de aprendizagem, o seu porte elegante e aristocrático, e a sua polivalência funcional são as características mais apreciadas pelos entusiastas desta raça.
As características físicas e funcionais que hoje atribuímos ao Braco Alemão começaram a ser selecionadas no início do século XIX, mas para contextualizar a sua história temos que recuar um pouco mais no tempo.
Existem relatos históricos da utilização de cães de parar no ato venatório que remontam ao século XIII. Existiam por toda a Europa dos mais variados tipos aqueles que consideramos serem os ancestrais das raças atualmente conhecidas.
Na Alemanha existia à época o Antigo Cão de Parar Alemão que mais tarde, algures durante o século XVI, através de cruzamentos com o Perdigueiro Ibérico e com algumas raças de cães de rasto aí existentes, deu origem àquele que se acredita ser o antecessor do Braco Alemão atual.
Até ao final do século XVIII a caça era um desporto unicamente reservado à nobreza, pois eram estes os grandes proprietários das terras e, por sua vez, da caça que lá existia.
Com o despertar da Revolução Industrial surge, por toda a Europa, uma nova classe de caçadores, a classe média. Ora, os membros desta classe, não sendo possuidores de grandes fortunas, nem de extensos territórios, não podiam suportar os custos de um grande canil onde existiam raças específicas para o mais diversos atos de caça (apontar, cobrar, seguir rastos, caçar em meio aquático, etc.). Surge então a necessidade de se encontrar uma raça polivalente.
Em meados do século XIX é introduzido nas linhagens de Braco Alemão existentes até então o Weimaraner e o Pointer, oriundo do Reino Unido. Estes cruzamentos vieram aligeirar cães que originalmente eram pesados e pouco elegantes, permitindo que estes percorressem maiores distâncias, bem como apurar a capacidade olfativa desta raça.
O resultado final de todos estes cruzamentos ao longo do tempo culminou num cão elegante, harmonioso, inteligente, leal e versátil com elevada energia, faro apurado, instinto de mostra altamente desenvolvido e uma impressionante vontade de cobrar, tanto em terra como em água.
Agora os caçadores alemães tinham um cão para caça de pelo e de pena, que mostrava e cobrava, e com tamanho, força e coragem para enfrentar presas de maior porte, nomeadamente, raposas, veados e javalis.
Em 1872 é registado o primeiro Braco Alemão de pelo curto no studbook do VDH (Kennel Club Alemão) de nome “Hektor 1 ZK1”. Mais tarde, em 1883, aparecem, pela primeira vez, no German Derby dois exemplares, “Nero” e “Treff”.
Os netos de “Nero” – “Walden”, “Waldo” e “Hertha” – nascidos na Alemanha, mas posteriormente exportados para os Estados Unidos são considerados os fundadores das linhagens ainda hoje existentes naquele país.
Nesta altura, numa tentativa de acompanhar a evolução que outras raças estavam a sofrer por toda a Europa, surge um movimento altamente conservador e purista focado na obtenção de características morfológicas ideais, nomeadamente, formato da cabeça e das orelhas, voltando a aparecer exemplares anormalmente pesados e atarracados.
Contra este movimento surge a voz dissonante do Príncipe Albrecht zu Solms-Braunfels, membro da Família Real de Hannover, que afirmava que o futuro da raça só poderia ser garantido de um modo – a seleção tinha que passar por escolher os reprodutores mais aptos para a sua função (form follows function).
É ainda hoje considerado um patrono da raça no seu país de origem, sendo que a uma das mais prestigiadas provas de trabalho inerentes ao Braco Alemão foi atribuído o seu nome, a Solms-Prüfung.
Infelizmente, a primeira metade do século XX não foi bondosa para o Braco Alemão devido à envolvência ativa da Alemanha nas duas Guerras Mundiais e ao clima político que ali se vivia, que quase provocaram o desaparecimento desta raça.
Durante o período fascista, o governo de Hitler controlava todos os atos de caça bem como toda a criação de cães de caça sobre a administração do seu ministro Hermann Goering que, em determinado momento, decretou que todos os exemplares branco e fígado deviam ser eliminados, permanecendo apenas os fígado sólidos e os fígado mosqueados, desaparecendo assim grande parte do pool genético, já de si comprometido.
Certos criadores que prosperaram no período anterior à II Guerra Mundial não conseguiram voltar a restabelecer-se, tal foi o decréscimo no número de exemplares na altura.
Dos canis da Alemanha de Leste pouco se sabe, apenas que Gustav Machetanz conseguiu fugir trazendo consigo pouco mais que o seu cão “Axel vom Wasserschling” que, até aos dias de hoje, é considerado o reprodutor que mais impacto teve na raça.
Após a II Guerra Mundial, a raça disseminou-se por toda a Europa, principalmente devido ao trabalho desenvolvido por um dos poucos canis alemães que reapareceram no período pós-guerra, vom Hege-Haus.
Fundado em 1936, por Emil Hegemann e a sua filha Karin Stramann, foram registados sob o afixo “v. Hege-Haus” 855 cachorros desde o seu início até 2005, tendo exportado exemplares para os quatro cantos do mundo.
É em grande parte devido ao trabalho realizado por pai e filha, em que “Axel v. Wasserschling” foi fundamental, que hoje temos o Braco Alemão como o conhecemos. É com o plano de criação desenvolvido em Hege-Haus que voltamos a encontrar algumas características perdidas durante a primeira metade do século XX, nomeadamente, a predominância do branco em determinadas pelagens e o reaparecimento do preto.
Atualmente é quase impossível encontrar um Braco Alemão que não tenha algo de Hege-Haus no seu Pedigree, sendo que em gerações mais recentes podemos muitas vezes encontrar aquele que é considerado o último grande reprodutor deste afixo, “Ungaro KS v. Hege-Haus”.
É graças a esta tão vasta história, que sofreu influência de tantas partes da Europa e de tão diversos eventos históricos, que hoje temos o Braco Alemão de pelo curto.
Um companheiro de excelência para o caçador atual, mas também uma raça cujos exemplares excedem nas mais diversas áreas, desde o Agility, à Obediência e ao Mushing.
Um cão nobre, de porte aristocrático, dócil e de caráter equilibrado, calmo e inteligente, que hoje é tido como um membro da família em tantas casas por esse mundo fora.
Por: Rodrigo Silva do afixo “da Bravura”
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