“Criar bem é fazer Arte! E é o que nos distingue”
Nesta entrevista vamos conhecer o percurso de Luís Pedro Almeida e o seu trabalho de criação e seleção na raça Pug com o afixo “Glorious Spirit”.
Como começou a sua ligação a esta raça?
O meu avô era veterinário e cresci neste meio dos animais. A minha primeira experiência na criação de cães foi com a raça Cocker Spaniel Inglês, tinha 13 anos.
A ligação aos Pug foi por acaso. Tinha um American Staffordshire Terrier do afixo “Karballido” e estava decidido a criar Amstaff, por ser uma raça que gosto, mas com a legislação aplicável às raças potencialmente perigosas acabei por desistir dessa ideia.
Em 2010, fui à Exposição Canina que se realiza na Exponor e vi uns bebés da raça Pug, a minha filha mais velha, na altura com 3 anos, ficou encantada. Também gostei da aparência engraçada destes cães e decidi então procurar uma Pug para lhe oferecer, a “Duda”. Já em casa, gostei muito do seu temperamento, comecei a apaixonar-me pelos Pugs e a estudar sobre a raça.
Como foi o percurso com a raça até à criação do Afixo.
Depois desta cadela pet, decidi adquirir um exemplar de Exposição, a “Zita” (Zita Ivory de Valmosqueiro). Era pequenina, mas com uma boa genética. Comecei então a pesquisar o macho ideal para cruzar com ela.
Contactei a criadora Blanca Ferrer do afixo “Los chatos del Turia” por causa de fazer esse cruzamento e, através desse contacto, acabei por comprar a “Vicky” (Los Chatos del Turia Victorias Secret), filha de dois cães americanos.
Continuei a pesquisar e fui parar à América, onde adquiri o “Spence” (Winsome’s Lil Bit of Roll’N Trouble@Namaste), o meu primeiro “Winsome’s”. Foi então que comecei a vencer com mais regularidade nas Exposições Caninas.
Nesta busca, procuro em primeiro lugar a saúde, depois a genética e a morfologia. Ao comprar um exemplar para reprodução, estes aspectos têm de vir bem vincados para transmitir e marcar as suas caraterísticas. Se vier de um line-breeding mais acentuado, melhor ainda.
Quando surge o afixo “Glorious Spirit”?
Registei o afixo “Glorius Spirit” em 2010, ainda antes de fazer qualquer ninhada. Entre outros nomes, este era o primeiro, porque ao criar o meu afixo o objetivo era divulgar, vencer e fazer um caminho glorioso.
Atualmente tenho exemplares “Glorious Spirit” em mais de 20 países – Portugal, Espanha, França, Reino Unido, Dinamarca, Suécia, Noruega, Islândia, Polónia, Rússia, Roménia, Canadá, México, Brasil, Angola, Moçambique, Filipinas, Bolívia, entre outros.
O início da criação exigiu um investimento também na parte das instalações.
A nível de instalações é essencial um bom isolamento térmico. Os Pug não suportam bem o calor, nem o frio. Temos parques exteriores, onde os cães estão durante o dia, que têm sombras e água sempre disponível, que em dias de mais calor é mudada várias vezes. Apesar de não termos invernos muito rigorosos, dispomos de aquecimento dentro do canil, que é ligado sempre que necessário.
Importa também referir que estamos registados na DGAV com a licença PT 3 010 FL.
Quais as cores que prefere e cria?
Na raça Pug há quatro cores: o fulvo, o apricot, o preto e o silver, mas não se têm visto exemplares desta cor.
Pessoalmente, prefiro os exemplares fulvo claro. A maioria das pessoas prefere os fulvos, porque acho que nem sabem que existem pretos.
Recentemente importei uma fêmea preta, a “Jocky” (Frantsuzkiy Potseluy Joconde), mas demorou muito tempo até fazer esta aquisição, pois é difícil encontrar a qualidade que exijo e pretendo num exemplar preto.
Enquanto criador, o que procura num exemplar desta raça?
O que se procura é perfeição, mas também saúde e caráter. A primeira coisa que se vê num Pug é a morfologia, se está dentro do estalão e do que ambicionamos. Presencialmente, a primeira coisa que vejo num Pug é a saúde – se se movimenta bem, se respira bem… Os exemplares têm de ser saudáveis ou nunca irão produzir descendência saudável.
Atualmente há uma grande polémica em redor das raças braquicéfalas, como é que o seu trabalho o distingue dos restantes?
Todos os meus cães são testados às encefalites. Os criadores devem trabalhar no sentido de minimizar a incidência de Pug Dog Encephalitis (PDE).
Só cruzo exemplares N/N, que não são portadores, com N/S que só têm uma cópia, ou com exemplares N/N. Ou N/N com N/N, que só dá descendência N/N.
Estes testes de PDE são muito importantes no planeamento das cruzas, pois se se cruzar animais N/S entre si, e que daí resultem cachorros S/S, que são portadores de duas cópias, estes têm até 12% de probabilidade de desenvolver meningoencefalite e isto é, de todo, desaconselhável e nada ético.
Temos de utilizar as ferramentas disponíveis para combater os problemas que existem na raça.
O trabalho de um criador é fazer o emparelhamento genético, por genótipo e fenótipo, mas tem de se preocupar também com a parte da saúde e caráter. No meu trabalho consegui eliminar problemas de respiração e de timidez.
A morfologia do Pug é definida pela Federação Cinológica Internacional (FCI). Dentro do estalão da raça são penalizados fatores como: excesso de ruga no nariz; excesso de pele no corpo e costas; e Pugs que respirem mal, que devem ser penalizados rigorosamente.
Quando frequentamos Exposições Caninas, mesmo que não notemos no dia-a-dia algum detalhe, os juízes vão apontar as qualidades e os defeitos dos exemplares.
Os criadores e/ou expositores devem ter exemplares o mais de acordo possível com o estalão, tentando assim cumprir as qualidades da raça que são desejadas pela FCI e, consequentemente, pelos demais juízes que julgam a raça!
Um criador que se preze, cria de acordo com o que é desejado e problemas respiratórios, ou de qualquer espécie, não são desejados.
Criar bem é fazer Arte! E é o que nos distingue de quem “não se importa”, de quem diz que cria porque gosta da raça, mas no fundo esse “gostar” chama-se dinheiro.
Portanto, os Pugs não precisam ser modificados para serem saudáveis, necessitam de ser criados por gente responsável.
Qual a sua opção de alimentação?
A alimentação também tem um papel importante. Atualmente sou patrocinado por duas marcas, a Arion e a Canina Pharma.
Desde que comecei a usar Arion desapareceram os problemas de hot spots que tinha pontualmente, pois tem muito ómega e o pelo dos cães não precisa de mais cuidados, para além da escovagem ou banho, está sempre em boas condições.
Recorro à Canina Pharma sobretudo para suplementar cadelas em gestação, cachorros ou quando tenho cães em Exposição nos quais preciso de acelerar a recuperação da muda do pelo, por exemplo.
Ainda em relação à alimentação, há alguns exemplares a que damos também carne fresca.
No caso dos Pugs a alimentação tem de ser sempre bem doseada, pois engordam com facilidade.
E na altura dos partos?
Nos partos optamos sempre por cesarina, para não colocar em risco a vida da cadela, nem dos cachorros. Cada fêmea nunca tem mais do que 3 a 4 ninhadas na sua vida reprodutiva, sempre com um descanso de pelo menos um cio entre ninhadas.
É muito importante perceber se um criador respeita os animais e lhes dá o devido descanso para recuperarem.
Quais as características mais marcantes da raça Pug?
Os Pugs não têm maus momentos, estão sempre ao nosso lado. Quando um Pug não está alegre, alguma coisa se passa. Algumas pessoas dizem que são “palhaços”, mas não concordo, considero-os amigos. São a excelência da companhia.
Com a idade vão acalmando, deixam de ser tão excitados, mas continuam a ter os seus momentos. Normalmente, seguem o dono para todo o lado.
Como descreve a raça como cão de companhia e de família?
Um Pug deve ser mais um elemento na familia. É extremamente versátil, adaptável aos diferentes ambientes e muito companheiro. Posso garantir, inclusivamente, que é ótimo para crianças, um excelente companheiro de brincadeiras. No entanto, dependendo da idade da criança e do Pug este convívio deve ser supervisionado.
Não deve passar muito tempo sozinho, pois adora companhia e é de considerar se há pessoas em casa durante o dia, ou outro cão para lhe fazer companhia, dependendo do número de horas que os donos estarão fora.
O Pug enquadra-se dentro do Grupo 9 da FCI, que é o grupo dos Cães de Companhia, portanto a sua função é fazer companhia ao seu dono e ser o seu melhor amigo, coisa que qualquer Pug faz muito bem por natureza!
Que recomendações dá aos donos?
Quando um cachorro vai para a sua nova casa explicamos que, seja qual for raça, um cachorro é muito “tenro”, ou seja, não deve ser puxado pelas patas, apertado, saltar da cama dos donos ou de sofás, ou descer escadas.
Por esta mesma razão, um cachorro com as patas direitas pode ficar com elas tortas (a apontar para dentro ou para fora), porque o seu corpo, a sua estrutura física, não estava preparada para suportar esses saltos ou pode magoar-se ao nível das articulações.
Uma recomendação que dou aos donos é que não os deixem sem trela próximos de estradas, porque podem atravessar ou ir para debaixo dos carros. São atropelados com muita facilidade, não têm noção.
Quem tenha piscina em casa, deve ter uma vedação ou colocar um sistema que lhes permita entrar e sair.
Realço ainda que um Pug não deve andar nas horas de mais calor, nem fazer marchas longas. Tem de ter sempre água disponível e devemos procurar andar com eles mais ao fim do dia ou de manhã, se queremos fazer um passeio.
Estamos disponíveis para as famílias dos nossos Pugs todos os dias, a qualquer hora. Eles sabem que podem sempre telefonar e esclarecer as suas dúvidas.
Qual a importância de apresentar cães em Exposição.
Apresento cães em Exposições em busca de prestígio, porque ter Campeões dá prestígio a um afixo, significa que somos bons naquilo que fazemos. Atualmente reduzi o número de exemplares em Exposição, porque passei a valorizar mais a escolha do juiz que vai avaliar a raça.
Tenho agora um macho que considero ser uma esperança e que vamos começar a apresentar.
É importante falar do trabalho do handler. No meu caso, os cães são apresentados e treinados pela Mariana Canaverde. O Borja Thovar também faz parte da equipa de handling e faz equipa com a Mariana em algumas Exposições. Apostamos em jovens capazes e com vontade, são ambos de extrema confiança e têm um excelente desempenho!
Quais os títulos mais relevantes que já conquistou?
Nos Troféus Anuais do Clube Português de Canicultura já tive vários exemplares “Melhor Exemplar da Raça” (Best of Breed) – o “Winsome’s Deuce’s Wild” foi BOB14 e Melhor Exemplar do Grupo 9 (BOG9); a “Glorious Spirit Jenny From the Block” foi BOB15; e o “Diabolbric’s Glorious Spirit” foi BOB17 e BOG9, sendo também BOB18.
Que título gostaria de alcançar?
Gostaria de alcançar um título como Campeão do Mundo com um juiz especialista e com um dos meus handlers na trela. Um Best of Breed (BOB) nas nacionais americanas, nas mesmas condições, também me satisfaria plenamente!
Entre os vários exemplares do afixo “Glorious Spirit” qual é, ou foi, para si o mais especial?
Do meu afixo tenho duas cadelas multi-campeãs que ganharam muito, poucas vezes perderam em ringue, a “Nina” (Glorious Spirit Nina Ricci) e a “Jenny” (Glorious Spirit Jenny From the Block), talvez esta última seja a mais especial.
Também tenho de referir o “Spence”, um cão que ganhou muito; alcançou 8 títulos [MW15, PW15, JCH (LU, CH, SE, ES) e CH PT e US] e fez o Campeonato americano. Com um caráter excelente e extremamente inteligente, só lhe falta falar.
Para terminar, quais os seus planos para o futuro?
Manter a nossa criação atualizada conforme o estalão da FCI e do Clube Português de Canicultura, em termos de morfologia e saúde dos nossos exemplares.
Continuar a trabalhar no sentido de prestigiar cada vez mais a nossa criação e tentar passar para gerações vindouras o que é a mística deste afixo! Continuar a dignificar e a criar orgulho em volta do afixo “Glorious Spirit”, mostrando os nossos exemplares ao Mundo e divulgando todo o trabalho da nossa equipa.
Tentar manter sempre alguns dos exemplares a participar em eventos para divulgar a raça.
Tentar educar a mente das pessoas que queiram ser proprietários de um exemplar da raça, fazendo com que procurem criadores fidedignos e respeitadores da saúde dos animais e das características morfológicas da raça Pug!
Futuramente pretende-se criar uma Associação dos Amigos da Raça Pug onde, entre outras coisas, primordialmente se tente dissuadir os “criadeiros” de produzir Pugs e passar a criar com consciência, no âmbito de respeitar o animal e, consequentemente, a raça em si!
Para já, sugerimos que visite o nosso website, nos siga no Facebook e que adira ao Grupo “Planeta Pug – Portugal”. Neste grupo as pessoas que já têm um Pug podem partilhar as suas aventuras e fotografias, e os interessados em ter um exemplar da raça podem esclarecer as suas dúvidas.
Fotografias de exemplares da criação e/ou propriedade do afixo “Glorious Spirit”.
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