O perigo das “opiniões” nas redes sociais

Confiaria cegamente no seu mecânico para lhe dar conselhos sobre a saúde do seu cônjuge que nunca viu nem mais gordo nem mais magro? Ou no seu merceeiro para lhe dizer como educar o seu filho que está a fazer algo de que não gosta? Andaria na rua a perguntar às pessoas com quem se cruza – “em minha casa passa-se isto, o que acha que devo fazer”?

Seguramente está a pensar, claro que não, que disparate, isso não faz sentido nenhum!

No entanto, é o que milhares de pessoas fazem diariamente relativamente aos seus animais de estimação. Não na rua, mas na Internet, nas várias redes sociais, grupos de raças ou de donos, e fóruns de discussão. Ok, é compreensível, conseguem chegar a mais pessoas. Mas… a opinião da maioria não é necessariamente a correta.

Na maioria das situações, trata-se de pessoas que não têm qualquer formação ou experiência no seu caso. O simples facto de serem donos de cães ou de terem a mesma raça que a sua não os torna qualificados para responder a dúvidas que o fazem pensar se algo é normal – porque se tem essa dúvida, o mais certo é não ser, por muito que lhe digam que é!

Na maioria das situações relativas a comportamento, os conselhos dados são incorretos e inadequados, baseados em informação antiga e contraproducente (por muito que tenha sido popularizada por programas de “treino” na TV), em vez do que se sabe cada vez mais sobre a forma como os animais se comportam e aprendem.

Limitar-se a inibir e castigar comportamentos não lhe vai resolver o problema; pode pará-lo no momento, mas mais cedo ou mais tarde irá haver problemas devido a isso. Além de que impedir certos comportamentos sem saber a razão que os causou pode levar ao agravamento do problema inicial.

Se precisa de perguntar a estranhos na Internet se acham que o comportamento do seu cão é normal é porque, no fundo, sabe que não é! Consulte um profissional adequado!

Adicionalmente, a maioria das pessoas não se apercebe de todos os sintomas, para os descrever adequadamente, nem a comunidade de pessoas pode fazer um diagnóstico com base em informações incompletas.

Problemas de comportamento que aparecem de repente têm frequentemente uma causa médica, que deve ser adequadamente diagnosticada e abordada. Por exemplo, agressividade súbita muitas vezes é devida a dores ou certos tipos de tumores; perda súbita de higiene em casa tende a ser devida a infeções urinárias; cães que lambem o chão compulsivamente ou caçam mosca imaginárias tendem a ter problemas gástricos; já cães que lambem desesperadamente as patas podem ter alergias ou problemas cervicais/de coluna.

Daí que de nada adianta ralhar com o cão quando ele exibe o comportamento se a causa física não for trabalhada, só irá estar a traumatizar o cão. Aliás, é esta a razão porque antes de se abordar um problema de comportamento que apareceu, se recomenda sempre um check-up completo.

Por isso, pelo seu bem e pelo bem do seu cão, quando tiver dúvidas sobre o que se passa com o seu cão, consulte um profissional adequado – um educador canino para questões de comportamento, e o seu veterinário e/ou um veterinário especialista para questões de saúde.

Por: Carla Cruz, Aradik – Consultoria Técnica Canina