Considerado por uns como um utensílio imprescindível que deve acompanhar cada animal, e por outros como um pedaço de papel perfeitamente inútil, qual o valor real de conhecer o pedigree do seu cão?
O que é, afinal, um pedigree?
O pedigree é a árvore genealógica de um indivíduo, é a informação relativa aos seus ascendentes.
Nos cães, o nome é também popularmente usado para designar o documento emitido pela entidade que rege a canicultura nesse país, mais tecnicamente denominado de certificado de registo num livro genealógico – em Portugal é o registo no Livro de Origens Português (LOP) ou no Registo Inicial (RI), noutros países é no livro genealógico em vigor nesse país.
O que inclui este documento?
Este documento inclui duas partes distintas. Numa parte está a identificação do animal – com o seu número de inscrição no livro de origens, nome de registo, títulos que tenha obtido, raça e variedade, se aplicável, cor, data de nascimento, sexo, número de microchip, nome do criador, nome e morada do proprietário e data de inscrição no livro de origens. Podem ainda ocorrer outros averbamentos que a entidade emissora permita incluir, como resultados de testes de despistes de saúde.
Na outra parte está a identificação dos ascendentes do animal – os seus pais, avós e bisavós (em alguns países o certificado pode incluir mais gerações). Para cada um destes animais é possível conhecer o seu nome, número de inscrição no livro de origens, títulos obtidos e cor registada.
O pedigree funciona assim como um Bilhete de Identidade detalhado, que inclui a árvore genealógica do cão.
Registo provisório
No caso de se tratar de um registo provisório, por o cão não estar ainda identificado eletronicamente, apenas está disponível a identificação possível do animal e o nome e número de registo do pai e da mãe. Ao converter-se este registo num registo definitivo, a restante informação será disponibilizada.
O pedigree dá-nos informação sobre os ancestrais do nosso cão, e permite-nos tirar algumas conclusões e inferências sobre o potencial do nosso cão.
Qual o interesse?
Mas para que é que o dono de cão de companhia, quer o pedigree do seu cão? Se não tenciona participar em Exposições, nem em qualquer outro tipo de provas!
O pedigree dá-nos informação sobre os ancestrais do nosso cão, e permite-nos tirar algumas conclusões e inferências sobre o potencial do nosso cão. Basta saber como o consultar. Hoje em dia, graças à internet e a um pouco de trabalho de detetive, o resto da informação fica à distância de alguns cliques e/ou telefonemas.
Conhecer os ascendentes
Olhe para a lista de ancestrais do cão. Irá ver vários nomes que, consoante conheça melhor ou pior a raça, lhe dirão muito ou nada. Veja se têm afixo, aquele “apelido” ou nome antes do nome propriamente dito do animal que identifica o criador.
A esmagadora maioria dos criadores sérios (mas também muitos criadeiros e produtores) cria com afixo, pois assim facilmente se reconhece o cão como sendo da sua criação. Esse detalhe tende assim a dar-nos muita informação sobre o tipo, funcionalidade e caráter gerais desses cães. Uma breve pesquisa na internet ou contacto direto com o criador permite preencher as lacunas.
Isto é importante porque apesar de os animais pertencerem todos à mesma raça, inevitavelmente há algumas pequenas (ou maiores) diferenças a nível de morfologia e caráter de criador para criador.
Por exemplo, algumas linhas de criação podem tender para animais maiores ou mais pequenos, mais maciços ou mais ligeiros, mais agressivos ou mais pacíficos, etc. Este conhecimento pode dar-lhe uma ideia geral do que esperar do seu animal, sobretudo se se tratar de um cachorro.
Quando o pedigree apenas apresenta nomes como “Fifi” ou “Bobi”, sem afixo, torna-se consideravelmente mais difícil determinar de forma expedita quem os criou, e quais os critérios subjacentes à criação (se é que estes sequer existem).
Apesar de os animais pertencerem todos à mesma raça, inevitavelmente há algumas pequenas (ou maiores) diferenças a nível de morfologia e caráter de criador para criador.
A importância dos títulos
Idealmente, vários ou todos os ascendentes do animal deveriam ter títulos de morfologia e/ou trabalho. Porquê, se só quer um cão de companhia? Porque, se não se mantiver uma seleção cuidada ao longo das gerações, as características que fazem com que uma raça tenha um aspeto e um comportamento próprios tendem a desaparecer.
Os cães são a espécie mais plástica existente, e muito facilmente, com um pouco de seleção e algumas gerações, se consegue mudar drasticamente o aspeto de um cão. Pense na diferença entre um gigantesco Dogue Alemão e um Chihuahua, por exemplo – até custa pensar que ambos partilham o mesmo ancestral.
A existência de títulos de morfologia nos ancestrais do cão ajuda a confirmar que esses animais correspondiam ao estalão da raça, tinham efetivamente o aspeto que a raça é suposto ter. O mesmo se passa com a ocorrência de títulos de trabalho.
Mesmo que apenas queira um cão de companhia, uma coisa é ter um cão com características e caráter previsíveis, outra é ter um cão “tipo” a raça alegada, em que o resultado final é um tiro no escuro semelhante à aquisição de um cão sem raça definida.
Aspetos genéticos
Conhecer a ascendência do nosso cão tem ainda implicações a nível da sua saúde e bem-estar. Com base na informação genealógica é possível calcular o coeficiente de consanguinidade dele.
De uma forma muito simples, consanguinidade consiste no cruzamento de indivíduos que têm algum grau de parentesco entre si – seja pais com filhos, primos, avós e netos ou relações ainda mais afastadas.
A nível genético, a consequência da consanguinidade é o aumento da homozigotia, ou seja, o aumento da probabilidade de, em cada gene, os dois alelos que o indivíduo possui serem iguais e transmitidos pelo mesmo ancestral que existe em comum entre o pai e a mãe. Isto vai aumentar a ocorrência de indivíduos exibindo características que apenas se manifestam quando os dois alelos são iguais – as boas e as más.
A seleção dos animais reprodutores associada à prática da consanguinidade leva à diminuição da variabilidade genética da linha onde está a ser praticada. Se isto tem a vantagem de permitir fixar mais rapidamente muitas das características que o criador está a tentar apurar na sua criação, tem a desvantagem de afetar negativamente vários aspetos reprodutivos e o sistema imunitário dos indivíduos, dificultando a sua resposta a ameaças ambientais.
Logo, saber o nível de consanguinidade do animal pode dar-nos algumas luzes sobre o potencial imunitário do indivíduo.
Identificar doenças
A nível de saúde, o pedigree tem ainda uma enorme e insubstituível vantagem. Caso se detete uma doença de base genética num indivíduo, ou na raça em geral, saber quais os indivíduos afetados ao longo de várias gerações permite uma abordagem preliminar para tentar aferir a sua forma de transmissão.
Esta é a base para se poderem implementar programas de despiste genético para tentar identificar o(s) gene(s) responsável(eis). Um bom conhecimento da genealogia dos animais é um passo crucial para toda a raça.
Por: Carla Cruz, Aradik – Consultoria Técnica Canina
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