História do Cão de Pastor Belga Laekenois

Os registos mais antigos que permitem decifrar a origem do Laekenois remontam a um cão de pelo duro e fulvo de nome “Vos”. Adquirido a um negociador de gado da região de Boom, este cão era pertença do pastor Jan Baptist Jansen que vivia na localidade de Laeken na Bélgica.

Cães como “Vos” eram utilizados nos campos onde a roupa era colocada a secar para a guardar dos ladrões e eram popularmente conhecidos como biting dogs, ou seja, cães que mordem.

“Vos” (mais conhecido como “Vos I”) foi cruzado com uma fêmea de pelo curto, castanha tigrada de nome “Lieske” ou “Liske” de Laeken. Desta combinação nasceram “Diane” e “Mouche”, cães de pelo curto que desempenharam um papel importante na evolução da variedade Malinois, “Tom de Vilvorde” de pelo duro cinzento e “Spits” uma fêmea que se pensa ser de pelo duro.

“Spits” foi cruzada com “Vos I” e nasceu “Moor” uma fêmea preta de pelo cerdoso, considerada um dos primeiros exemplares de preto recessivo na história do Cão de Pastor Belga.

“Moor” cruzada com “Vos I” produziu “Poets” (ou “Pouts”) uma fêmea fulva de pelo duro.

“Poets” – Colecção Privada de Jean-Marie Vanbutsele

“Poets” foi cruzada com o seu tio avô “Tom de Vilvorde” e produziu “Vos II” e “Belle de Saint-Nicolas”. Estes dois exemplares estão na origem de muitas das linhagens de Malinois, Laekenois, Pastores Holandeses e Bouviers.

Colecção Privada de Jean-Marie Vanbutsele

 

Embora atualmente o estalão só admita Laekenois de cor fulva, o primeiro estalão do Laekenois só admitia a cor cinzenta escura, conhecida como dark ash grey.

Colecção Privada de Jean-Marie Vanbutsele

 

No dia 25 de outubro de 1896, no jornal “Chasse et Pêche” lia-se: “O pastor Mr. Jansen é um criador de longa data a quem a sorte sempre sorri. Usou “Poets”, “Moor” e “Liske”, três fêmeas de uma linhagem muito antiga e com grandes qualidades de reprodução. Na sua linhagem todos os cães são muito semelhantes. Ele nunca teve a experiência de ter um cão de tipo diferente, pois a herança genética da sua linhagem é muito forte. Os olhos grandes, amarelo-ouro ou castanhos e as orelhas eretas e bem posicionadas são as duas características principais, suficientes para reconhecer um cão da sua linhagem. As orelhas triangulares, abertas à frente e bem posicionadas no cimo da cabeça só são encontradas nos cães de Jansen e são muito apreciadas por quem gosta deste tipo de cão.”

Apesar deste comentário bastante favorável aos cães de cor fulva, em 1898 o Club du Chien de Berger Belge escolhe o cinzento escuro como a cor oficial para o Pastor Belga de pelo duro.

A decisão de escolher o cinzento escuro para o Laekenois, pensa-se ter sido tomada por influência de cinófilos da época que preferiam esta cor, nomeadamente, Omer Reumon. No entanto, continuou a existir adeptos da cor fulva que mantiveram exemplares deste tipo.

Relativamente aos cães de Omer cinzentos escuros, A. Peffer, um importante juíz canino, escreveu: “Lembro-me de ter visitado várias vezes o canil de Reumon, consegui com as suas fêmeas produzir alguns cães de qualidade. Digo alguns porque o resto é lixo. Digo lixo por causa da cor, a maioria dos cães de cor fulva são de ótima qualidade, enquanto os cinzentos tinham imensa dificuldade em se reproduzir”.

Este comentário deu mais força aos criadores de Laekenois fulvos que, apesar de serem mais homogéneos e de acordo com o estalão, não eram aceites única e exclusivamente por serem fulvos e não cinzento escuro.

Em 1905, numa Exposição organizada pela Société Royale Saint-Hubert estiveram presentes 73 Pastores Belgas, entre os quais 6 exemplares de pelo cinzento escuro cerdoso. Somente um estava dentro do estalão da raça sendo os outros de baixa qualidade.

O juiz desta Exposição, V. Fally, levantou a questão de se a escolha da cor cinzenta para a variedade de pelo cerdoso foi uma decisão acertada e disse: “Só foram vistos dois exemplares de cor cinzento escuro do tipo correto, “Bazoef” e “Mira”. De toda a sua descendência direta e indireta somente 4 ou 5 cães estão de acordo com o standard. A maioria é de cor fulva. A existência da variedade de pelo cerdoso é indiscutível, mas na minha opinião a cor original não é o cinzento escuro. Esta questão deve ser discutida novamente, com a ajuda de dez anos de criação, uma solução mais próxima da realidade deve ser encontrada”.

“Mira” – Colecção Privada de Jean-Marie Vanbutsele

 

No dia 18 de julho de 1898 os apaixonados pelas cores excluídas no standard do Pastor Belga, fulvo para o pelo cerdoso e pelo comprido, fundaram o Berger Belge Club. Este Clube organizou quatro Exposições à margem das regras da Société Royale Saint-Hubert.

No dia 24 de setembro de 1905 o Club du Chien de Berger Belge desfiliou-se da Société Royale Saint-Hubert e filiou-se na Fédération des Sociétés Canines de Belgique, deixando assim o caminho livre para o Berger Belge Club ser o representante do Cão de Pastor Belga.

Assim, no dia 5 de maio de 1907 o Clube organiza a sua sexta Exposição, primeira de acordo com as regras da Société Royale Saint-Hubert. Nesta Exposição reaparece pela primeira vez, oficialmente, a variedade de pelo cerdoso de cor fulva.

Em 1908 é registado no Livro de Origens Belga (L.O.S.H.) o primero pelo cerdoso de cor fulva.

Texto: Rui Alves Monteiro, juiz e criador da raça com o afixo “Casa Mont’Alves”

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