O Cão Lobo Checoslovaco na primeira pessoa

Muito já se investigou e ainda existe muito para pesquisar tanto a nível genético como a nível arqueológico sobre a relação entre o lobo e o cão. Houve também grupos de curiosos e também técnicos que puseram mãos à obra e lançaram-se diretamente no terreno, tentando conhecer melhor esta relação através de cruzamentos mais ou menos selecionados.

Na nossa opinião, de todos estes estudos, aquele que foi levado a cabo de forma mais metódica e organizada foi realizado pelo exército da antiga Checoslováquia. Um trabalho suficientemente sério para dar origem a uma raça reconhecida pela Federação Cinológica Internacional.

Mas quem melhor para falar do projeto que o impulsionador deste? Nascido a 14 de agosto de 1924, alistou-se na guarda fronteiriça em 1951. Logo no início da carreira foi nomeado comandante do centro de formação para treinadores. Em 1982, reforma-se da carreira militar com a patente de Coronel, depois de ter modernizado completamente o formato do treino dos cães do exército. Com tal sucesso que chegou a dar formação a forças armadas de outros países do eixo soviético.

Karel Hartl
Karel Hartl
Karel Hartl
Karel Hartl
Karel Hartl

Ainda vivo, continua a ser uma referência na Canicultura. Eis um texto na primeira pessoa do Eng. Karel Hartl, de 28 de abril de 2003.

“O Cão Lobo Checoslovaco é desde 13 de junho de 1989, quando foi internacionalmente declarado pela sessão plenária da Federação Cinológica Internacional (FCI) em Helsínquia, a nossa mais recente raça nacional.

A história do desenvolvimento da raça tem o seu início no ano de 1955. Naquela altura comecei a ocupar-me com o cruzamento entre o Pastor Alemão e o lobo com a preocupação de investigar hereditariedade no cruzamento interespecífico da espécie original com uma raça selecionada.

O objetivo da investigação seria: verificar a fertilidade da descendência, o nível de dominância do lobo e do cão, o nível de adaptação e demonstração das características herdadas do lobo e do cão, estudo da atividade endógena do lobo e da sua descendência cruzada em comparação com o cão, biometria da descendência e sintomas da sua mais elevada atividade do sistema nervoso.

Os híbridos demonstraram um alto nível de imunidade em condições climatéricas extremas e excelentes condições de saúde tanto na fase juvenil como em adulto. A semelhança com o lobo em detrimento do Pastor Alemão surgiu na 3ª geração. Contudo, demonstravam diferenças singulares tanto do lobo como do Pastor Alemão. A uniformidade da aparência exterior estava no seu nível mais elevado. Testes zoopsicológicos demonstraram as pré-condições dos híbridos para educação e treino e isto significa utilidade.

Desenvolveu-se um projeto de criação de uma nova raça quando os híbridos ultrapassaram outras raças de trabalho nos testes de resistência em condições duras atmosféricas. Muitos cinologistas experientes aderiram a este projeto.

Acima de todos, o Sr. Frantiek Rosik, que iniciou esta tarefa na Eslováquia. Ele continua, de forma bem-sucedida, como presidente do Clube do CLC e também como criador próspero e ativo desta raça. Um muito conhecido criador desta nova raça, o Sr. Frantiek Horák, contribui com o seu aconselhamento, também os criadores e treinadores Sr. Pavel Broek, Sr. Jan Driml, Sra. Anna Cimáèková e Dr. Zd. Martínek tomaram parte. Muitos outros entusiastas se uniram para o nascimento desta nova raça.

Para o cruzamento interespecífico foram escolhidos animais de acordo com determinados testes. Estes indivíduos continham pré-condições genéticas, fisiológicas e morfológicas para se tornarem a base de uma nova raça. Foram escolhidos três indivíduos originários de três grupos iniciais incluindo espécimes diretos do cruzamento de Pastor Alemão com lobo dos Cárpatos e a sua descendência.

A criação foi baseada num inbreed não relacionado em diferentes níveis de cruzamento. Espécimes com vários níveis de relacionamento foram cruzados no período seguinte para estabelecer as fundações das linhas de criação. O conhecimento dos testes anteriores, que demonstra não existir ligação direta entre a parte “cão” e “lobo” devido a cruzamentos e o seu fenótipo, era utilizável.

Exemplar F1.

Quando foi provado em poucas gerações de híbridos que o objetivo esperado era atingível, os resultados foram resumidos num estalão definitivo de uma nova raça. Solicitámos a possibilidade de registo dos híbridos no Livro de Origens da União de Criadores da República Checa no ano de 1966. Isto deveria ser o início de uma nova raça.

O nosso pedido não foi satisfeito. Para piorar a situação, foram publicados artigos de especialistas afirmando que uma criação bem-sucedida desta raça era inatingível. Estes autores citaram o fundador da raça Pastor Alemão, V. Stephanitz. Contudo, nós tínhamos informação diferente acerca dos seus testes e experiência própria que revelava o contrário.

Solicitámos o registo pela segunda vez em 1970. Foi recusado pelas mesmas razões. A situação repetiu-se em 1976, no Livro de Origens de Svazrm (Organização de Cooperação com o Exército). O Prof. General J. Hruovský, naquela época Presidente do Conselho Central Cinológico, interveio.

Cão militar na década de 80.

Em 1981, o Comité Central de Peritos da União de Criadores Checos finalmente aprovou a aplicação para que se registassem os nossos cães no Livro de Origens. Em simultâneo, permitiram a fundação do Clube de Criadores do Cão Lobo Checoslovaco. Este foi fundado na primavera de 1982.

Dado que a criação desta raça se desenvolvia de forma bem-sucedida, O Clube de Criadores do Cão Lobo Checoslovaco pediu a homologação da raça à FCI.

Exposição em 1986.

Foi necessário modificar o estalão de forma a acordar com os requerimentos internacionais.

Este é um cão de constituição firme, perfil retangular, com uma proporção altura/comprimento de 9:10, semelhante ao lobo na textura e cor do pelo. É uniforme no tipo. Os seus sentidos estão fortemente desenvolvidos. É ativo, com reações ativo-defensivas, mas desconfiado. A cabeça é em forma de cunha, mas com a testa ligeiramente arqueada. A expressão deve demonstrar o sexo. Possui dentes regulares com dentada em tesoura. Os olhos típicos deverão ser claros e ligeiramente amendoados. As orelhas são curtas e levantadas. O pescoço é bem musculado, sem pregas e bem provido de pelo. O dorso é reto e firme, ligeiramente inclinado. O lombo é curto, de largura moderada. O ventre é firme e arregaçado. A cauda é de inserção alta, reta e pendente. O peito é espaçoso, em forma de pera, algo estreitado sem ter o esterno marcado.
Os membros possuem um comprido antebraço, metacarpo, perna e jarretes. As mãos encontram-se ligeiramente viradas para fora, outro sinal característico. Quando os esporões raramente surgem, são removidos.
É característico o seu trote completamente harmonioso e leve. Caminhar em passo é típico.
A pelagem é reta e fechada. Durante o inverno o subpelo cobre toda a superfície do corpo. As cores admitidas são do cinza-amarelado ao cinza-prateado com uma máscara pálida característica. Os pelos claros também surgem na zona inferior do pescoço e no peito.
A altura mínima para os machos é 65 cm e 60 cm para as fêmeas. Os limites superiores não estão definidos. No Livro de Origens da União Checa encontram-se registados 920 indivíduos.

A avaliação anual de raças e as suas exigentes bonitações regista que na República Checa atingiram os seguintes resultados: 78 % dos indivíduos possuem altura de tamanho corretos, 85 % possuem a cor correta, 72 % demonstraram as características naturais desejadas, 4 % não possuíam o dente P1, 2% o P2 o M3 e 1,7 % eram criptoquírdicos.

O Cão Lobo Checoslovaco manteve a sua alta resistência. Isto é demonstrado nos exames anuais de endurance. Um elevado número de cães passou os exames. Equipas inteiras de Lobos Checos anualmente participam em corridas de fundo. Desta forma, deixámos de ser apenas uma atração. Tornámo-nos parte dos eventos cinológicos.”

Texto: Miguel Félix, do afixo “Lugar do Poço”

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